Lateralização pré-halving do Bitcoin?

Lateralização pré-halving do Bitcoin?

Satoshi Call

Apesar de o Bitcoin (BTC) estar em baixa nesta segunda-feira, a criptomoeda segue presa em seu estreito canal de negociação entre US$ 29 mil e US$ 31 mil. Embora a movimentação lateral seja semelhante aos períodos pré-halving anteriores, a última semana apresentou pouquíssimas novidades macroeconômicas e criptográficas. A cautela maior vem dos resultados corporativos nos Estados Unidos, com algumas big techs não performando tão bem assim. Além disso, o foco já está na decisão da política monetária do Federal Reserve (FED) e Banco Central Europeu (BCE). Mas vamos dar uma olhada em tudo o que rolou e que está por vir e, assim, preparar possíveis negociações nesta semana.

 

Balanço Corporativo

Os encerramentos trimestrais são sempre agitados, principalmente quando empresas norte-americanas estão envolvidas. Embora os dados sejam divulgados pelas corporações em dias diferentes, o sentimento dos investidores já era de pessimismo. Afinal, a expectativa era de que os lucros do S&P 500 recuassem em 7%.

Em partes, a percepção dos analistas estava relativamente correta. A Netflix, por exemplo, viu sua base de assinantes crescer em 8% no segundo trimestre, enquanto a receita desacelerava em comparação com o início do ano.

Em um desempenho semelhante, a IBM surpreendeu com um forte lucro entre abril e junho, mas assistiu sua receita também recuar. Já a Tesla até apontou resultados positivos, mas Elon Musk foi cauteloso em relação às metas da empresa e destacou a paralisação parcial das fábricas para manutenção e atualização de equipamentos.

 

 

De olho na inflação

Com a reunião do FED já esta semana, o mercado começa a se movimentar em direção a um provável aumento de 25 pontos-base nos juros dos Estados Unidos. A perspectiva acompanha os recentes e batidos discursos da instituição de que pelo menos duas elevações na taxa devem ocorrer até o final do ano.

A inflação até pode estar vendo um alívio com a desaceleração das Vendas no Varejo em junho. Porém, a Produção Industrial também recuou, voltando a pressão para uma possível recessão, mesmo que leve, no país.

 

Junho Projeção Maio
      Vendas no Varejo (mensal) 0,2% 0,5% 0,5%
      Vendas no Varejo (anual) 1,49% 1,60% 1,96%
      Produção Industrial (mensal) -0,5% 0,0% -0,5%
      Produção Industrial (anual) -0,43% 1,10% 0,03%
      Seguro-desemprego (semanal) 228 mil 242 mil 237 mil

 

Combustíveis

Além dos percalços corporativos, as commodities também foram motivo de insegurança aos investidores. Fontes ouvidas pela CNBC disseram que a Rússia deve reduzir a exportação de petróleo entre 100 mil e 200 mil barris por dia em agosto.

A decisão vai em linha com a promessa do país em cortar a oferta junto à Arábia Saudita. Ou seja, a inflação pode balançar novamente com a restrição aos produtos de energia.

 

Do outro lado do oceano

Apesar dos esforços dos formuladores de política monetária, o núcleo da Inflação ao Consumidor (CPI) na Zona do Euro acelerou em junho. Em contrapartida, o indicador geral mostrou recuo na comparação com o mês anterior.

 

Junho Projeção Maio
      CPI (mensal) 0,3% 0,3% 0,0%
      CPI (anual) 5,5% 5,5% 6,1%
      Núcleo CPI (mensal) 0,4% 0,3% 0,2%
      Núcleo CPI (anual) 5,5% 5,4% 5,3%

 

Ao contrário dos analistas norte-americanos, que começam a pensar em uma pausa no aperto monetário, os dados sugerem que o Banco Central Europeu (BCE) vai ter ainda muito trabalho pela frente para recolocar a inflação de volta à meta de 2%.

 

Nada glorioso

Na China, importantes dados da economia local foram divulgados. O Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, apresentou uma expansão considerável de 6,3%. Entretanto, o número veio abaixo dos 7,3% esperados pelos analistas. Como relatado no último Satoshi Call, as Vendas no Varejo recuaram com força, enquanto a Produção Industrial seguiu seu avanço.

As perdas corporativas de grandes empresas, principalmente as do setor imobiliário, pressionaram o mercado por lá. Por isso, aumentaram as expectativas de que o governo chinês vai oferecer novos estímulos para o setor. Um deles já foi divulgado: a taxa de empréstimos de um ano permanecem com seus juros inalterados.

 

Lombadas no caminho

Pelo Brasil, ficam mantidas as perspectivas positivas em relação à queda da inflação e avanço da economia. Entretanto, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, recuou, em junho, na comparação com maio.

 

Junho Projeção Maio
      IBC-Br -2,00% 0,00% 0,56%

 

 

Sem surpresas

Apesar de abrir a segunda-feira em queda e operando na parte de baixo do canal, a criptomoeda de referência segue estagnada entre US$ 29 mil e US$ 31 mil.

As explicações para o movimento lateral do BTC são diversas. Boa parte delas vem dos próprios dados on-chain. Eles mostram que 78% de todo o depósito recente de BTC nas exchanges foram feitos por especuladores de curto prazo.

Enquanto isso, as métricas apontam que os HODLErs seguem acumulando o ativo, inclusive, em um nível semelhante ao quando a criptomoeda estava em US$ 16,8 mil, US$ 24 mil e, agora, US$ 28 mil. Esses três pontos são considerados fundos importantes do recente ciclo de mercado.

A faixa de negociação estrangulada acompanha ainda um sentimento bastante curioso. Os detentores de Bitcoin que possuem grandes lucros não estão vendendo suas posições. Ao mesmo tempo, os investidores que registram prejuízo também permanecem com suas criptomoedas armazenadas, em busca de melhores preços.

Na realidade, as informações obtidas dentro da rede apontam que o HODL é a prática dominante há tempos no setor. Dos 14,52 milhões de Bitcoins disponíveis, 55% da oferta permaneceu inativa por pelo menos dois anos, enquanto 29% ficou armazenada por cinco anos ou mais.

 

Algumas quebras possíveis

Se os dados de rede sugerem que o mercado continuará estável, há dois fundamentos importantes que devem ser observados, pois podem levar a quebras de preços.

Um deles é que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) aceitou o pedido de revisão de uma antiga solicitação de ETF de Bitcoin da Valkyrie. Já o segundo se refere ao halving do Bitcoin, que está há menos de um ano de ser acionado.

Pesa ainda na balança o halving da Litecoin – uma “concorrente” do BTC. O evento de corte na recompensa aos mineradores está estimado para acontecer daqui 12 dias.

 

 

Luz no fim do gráfico?

Há poucas mudanças no gráfico semanal para o Bitcoin. O preço continua apresentando baixa variação, enquanto os candles se posicionam muito próximos à linha de resistência. Interessante, porém, observar o comportamento da Banda de Bollinger. O indicador, que mede a volatilidade de um ativo, está cada vez mais estreito, porém, em rota de alta. Assim, os suportes podem ficar cada vez mais consolidados e altos. Ao mesmo tempo, o desenho de topo duplo permanece como uma possibilidade real de ser consolidado.

 

Fonte: TradingView, em 24/07/2023, às 8h33min.

 

Os indicadores adjacentes apontam para uma perda de força do MACD, sugerindo um possível cruzamento para baixo das médias móveis. No mesmo ritmo, o Índice de Força Relativa (RSI), apresenta ligeira variação para baixo, mirando os 57 pontos. Esses dois indicadores apontam para uma falta de força dos compradores neste momento de mercado.

 

Conclusão

Não foi desta vez que o mercado encontrou os gatilhos necessários para uma quebra da lateralização de preços do Bitcoin. O movimento atual, entretanto, é semelhante ao que aconteceu em 2020, no período pré-halving da criptomoeda de referência, com os HODLErs mostrando força excessiva para manter suas criptomoedas armazenadas.

Esta semana, porém, não há qualquer sugestão inicial de que o comportamento do BTC mude. Nem mesmo a divulgação de um aumento de juros nos Estados Unidos parece ter forças para quebrar a lateralização, como também aconteceu da última vez. Porém, semanas são semanas e cada uma pode reservar surpresas.

Como apontado nos últimos relatórios do Satoshi Call e
Variação de Mercado, cautela é a melhor amiga dos investidores mais arrojados e com maior fluxo de operações. Afinal, se tem uma coisa que o mercado não gosta é de incertezas.