A lateralidade permanece firme e forte para os lados do Bitcoin (BTC). Embora seja característica de períodos pré-halving, a falta de “pistas” sobre o comportamento da criptomoeda é, até certo ponto, angustiante para muitos investidores. Para complicar ainda mais, há também uma descorrelação importante da moeda digital com o mercado tradicional, tornando os gatilhos de preços – sejam de alta ou baixa – ainda mais imprevisíveis. Por isso, a ideia aqui é pontuar essa perda de conexão e como os fundamentos do próprio BTC podem ser o ponto-chave para embasar suas negociações.
Vem mais juros por aí!
Nos Estados Unidos, a política monetária esteve no centro do palco na última semana. Como esperado pela maioria dos investidores, o Federal Reserve manteve sua taxa de juros atual, assim como fez duas reuniões atrás.
Entretanto, Jerome Powell, presidente do FED, disse que a inflação ainda não atingiu a meta desejada e indicou uma postura cautelosa em relação às taxas. Durante coletiva, o mandatário comentou que o banco central está disposto a elevar os juros novamente, se necessário, para manter a inflação sob controle.
O ponto de discussão ganha um tom mais quente quando olhamos para as prévias do Índice Gerente de Compras (PMIs). Apesar da melhora nos indicadores de Serviços, Indústria e Composto, não dá para dizer que a economia está bem postada em território de expansão.
Na ponta do lápis
As contas públicas dos Estados Unidos continuam sendo o grande impasse no país. Os republicanos mais “casca-grossas” estão resilientes às pressões para aprovar novos cortes no orçamento. Inclusive, eles ainda levaram ao adiamento das votações no Congresso.
Caso não ocorra o reajuste nos gastos públicos, algumas funções federais – como a emissão de passaportes, entre outras atividades – podem ser paralisadas por falta de verba já no próximo mês. Essa perspectiva tem deixado congressistas e empresários preocupados com a situação das contas norte-americanas.
No caminho da recuperação?
Do outro lado do oceano, a Zona do Euro enfrenta seus próprios desafios. A queda contínua da inflação ao consumidor (CPI) pelo quarto mês consecutivo em agosto reflete uma demanda mais fraca e potencialmente um ambiente deflacionário.
Agosto | Projeção | Julho | |
CPI | 5,2% | 5,3% | 5,3% |
CPI Núcleo | 5,3% | 5,3% | 5,5% |
A queda de preços acompanha ainda um aumento significativo dos PMIs do bloco. Mesmo assim, Serviços, Indústria e Composto continuam abaixo dos 50 pontos, colocando a economia em possível recuperação, mas ainda em território de retração.
Neste caso, os dados da atividade econômica nos EUA, que mostram uma demanda mais fraca, podem ter implicações para a Zona do Euro, dada a relação econômica entre as regiões.
Revertendo o aperto
Os juros também foram tema central esta semana no Brasil. O Banco Central (BACEN) decidiu cortar em 0,5% a SELIC. Com isso, o país abandonou o posto de ser responsável pela maior taxa de juros reais do mundo. A decisão tem como objetivo e perspectiva estimular mais o investimento e consumo internos.
Em pronunciamento, a instituição disse que a redução dos juros deve seguir para as próximas reuniões e todos com a mesma magnitude. Ou seja, há grande probabilidade de que o Comitê de Política Monetária brasileiro faça um novo recuo de 0,5% no próximo encontro.
No entanto, o avanço do IGP-10 em setembro indica que as pressões inflacionárias são persistentes, e o BACEN terá que continuar monitorando de perto para garantir a estabilidade econômica.
Bitcoin desconectado da realidade
O Bitcoin enfrentou dias ligeiramente mais agitados na última semana. A criptomoeda de referência saltou rapidamente dos níveis mais baixos dos US$ 26 mil para perto dos US$ 27,5 mil. Este ponto serviu para realização de lucro de boa parte dos investidores, impedindo a continuidade do impulso.
Fim da correlação?
É interessante observar que, há alguns meses, o comportamento do Bitcoin parece “alheio” ao restante do mundo. É inflação de um lado, taxa de juros do outro, e a criptomoeda está lá, fazendo o “seu corre”. A falta de engajamento do ativo com eventos macroeconômicos têm chamado muito a atenção recentemente.
Em um estudo da IntoTheBlock, essa percepção é vista também nos números, a partir da sua métrica “coeficiente de correlação”. Se o indicador está acima de zero pontos, quer dizer que os ativos estão se movendo na mesma direção e ao mesmo tempo. Quanto mais próximo de 1, maior a correlação entre os ativos.
Em contrapartida, quando o coeficiente está negativo – abaixo de zero –, menor é a correlação entre eles. Desta forma, enquanto um ativo se valoriza, o outro tende a perder força simultaneamente. Assim, o Bitcoin de certa forma está alheio ao cenário macroeconômico.
Como podemos observar no gráfico, destaca-se não só seu desprendimento ao índice dólar (DXY), mas principalmente ao S&P 500 e Nasdaq 100, que costumavam ser grandes “puxadores” de ações de tecnologia e, consequentemente, das criptomoedas.
Essa descorrelação, portanto, coloca ainda mais dúvidas sobre os movimentos do Bitcoin, já que são menos informações disponíveis para analisar seu comportamento. Por outro lado, é um sinal de que a moeda digital está buscando o seu lugar ao Sol e operando a partir de seus próprios fundamentos.
Ninguém vende
Neste caso, nada mais justo do que observar os dados on-chain para identificar possíveis insights. Logo de cara, vemos que a oferta inativa de Bitcoin está atingindo máximos históricos. Isso sugere que muitos detentores estão acumulando e não querem vender seus ativos no curto prazo.
A reserva de BTC nas exchanges – linha azul – segue caindo desde abril deste ano. Este movimento acentua ainda mais a narrativa de que o mercado está em fase de acumulação, provavelmente de olho no próximo halving, como vimos no Satoshi Call anterior.
Eles querem muito
O hype em torno do investimento institucional no mercado de criptomoedas é cada vez maior. A Grayscale, que já havia solicitado uma revisão de seu pedido de ETF de Bitcoin à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) , deu mais um passo à frente.
Agora, a empresa apresentou um novo pedido, desta vez, para lançar um fundo baseado em futuros de Ethereum (ETH). Caso aprovado, é mais um case de sucesso e uma nova oportunidade para a entrada investidores institucionais.
Vai um cafézinho aí?
No gráfico semanal, o Bitcoin segue dentro de seu movimento lateral, mas se recuperando da recente baixa, após uma aproximação ao último suporte de preços na região dos US$ 24 mil (linha azul). Este nível ganha ainda mais força, pois a linha inferior da banda de Bollinger também mira este ponto como possível fundo de futuras correções.
Fonte: TradingView, em 25/09/2023, às 8h35min.
Interessante notar também que o desenho de fundo duplo está em jogo e pode ser confirmado, caso a criptomoeda sustente o atual momento de alta. Corrobora com esta perspectiva o padrão Cup and Handle (xícara e alça) observados em laranja. Este desenho costuma anteceder uma valorização.
Já nos indicadores subjacentes, o MACD faz mais uma aproximação de suas linhas, mostrando que o mercado está saindo um pouco do controle dos bears. Ao mesmo tempo, o Índice de Força Relativa (RSI) aponta os 48 pontos, com o ativo ainda mais vendido, mas muito perto de um equilíbrio.
Conclusão
Apesar de todo o cenário macroeconômico conturbado, o Bitcoin parece que está “dando de ombros”, esperando que seus próprios gatilhos ou algo muito incrível aconteça para fazer algum movimento considerável. Até lá, a criptomoeda caminha lentamente, de forma lateral, e longe de cravar uma tendência bem definida.
Em meio a esta alienação do BTC, o mais prudente para os investidores é acompanhar os dados on-chain e notícias referentes ao setor criptográfico. Desta forma, é possível eliminar alguns ruídos das análises e ter uma direção melhor sobre o preço do ativo.
Fato é que há poucas pistas no radar, e os efeitos do halving já começam a dar seus primeiros sinais, com sua característica lateralização e tendência confusa cerca de um ano antes do evento técnico. Como resposta, o mercado está mais acumulando BTC do que desfazendo suas posições atuais.