O desenrolar da macroeconomia tem alimentado os investidores famintos pelo risco. Já que os juros norte-americanos podem estar equilibrados, e os títulos do tesouro podem perder parte de sua atratividade no curto prazo, o mercado se volta às ações e criptomoedas para aumentar a emoção. Para o Bitcoin (BTC), o ativo inicia novembro em busca do terceiro mês consecutivo de alta. Mas para os desavisados, nenhum mercado sobe em linha reta e, por isso, entender o fluxo do ativo pode ajudar você a tomar decisões precipitadas.
Chegamos ao fim do túnel?
Nem preciso dizer que a política monetária norte-americana foi e segue sendo o destaque no mercado, não é mesmo? Na última semana, o Federal Reserve confirmou a expectativa dos analistas, que apostavam na manutenção dos juros entre 5,25% e 5,5%. O discurso cauteloso do presidente do FED, Jerome Powell era também mais do que esperado. O mandatário deixou claro que cortar os juros não está nos planos agora.
Esse discurso era meio que esperado. Afinal, Powell não seria louco de sair por aí confirmando suas cartadas. Mas, desta vez, como um bom suspense, ele deixou um mistério no ar. A autoridade monetária comentou que, apesar da falta de discussão sobre um possível corte nas taxas, novos aumentos nos juros podem simplesmente não ocorrer mais. Fica a dúvida aí no ar agora!
Toda essa coragem do presidente do banco central por ter sido uma “previsão” dos dados do payroll – o status do mercado de trabalho do cidadão urbano norte-americano. Segundo o relatório, foram criadas 150 mil novas vagas de emprego, contra quase 300 mil esperadas. Isso pode ser um sinal de que o tão esperado desaquecimento do setor empregatício, enfim, está acontecendo.
Para o mercado de criptomoedas e o Bitcoin, temos notícias bastante importantes, portanto, para os próximos dias. Afinal, com uma queda nos juros, os títulos do tesouro dos Estados Unidos começam a pagar cada vez menos, conforme o dólar deva passar a se consolidar. Este é o cenário que os investidores de maior risco estavam esperando para sair de posições menos especulativas. Desta forma, podemos ver um fluxo maior de entrada de capital para o setor cripto e, consequentemente, um desempenho positivo dos ativos digitais.
Estável, mas daquele jeito
Enquanto a situação econômica é mais definida nos Estados Unidos, a Zona do Euro está longe de trafegar pelas famosas rodovias alemãs. A realidade é que há sinais de estabilidade no que se refere ao sentimento econômico dentro do bloco, indicando até um ligeiro otimismo. A confiança do consumidor também sua lateralidade, suportando a ideia de que este setor ainda está aquecido.
O respiro, porém, pode vir na forma de desaceleração da inflação. Galhau, um dos representantes do Banco Central Europeu (BCE), destacou a subida de 2,9%, em outubro, dos preços ao consumidor (CPI), contra 4,3% no mês anterior. Essa “trégua”, inclusive, coloca o BCE em uma posição semelhante ao Federal Reserve de que, talvez, os juros já estejam em um patamar elevado o suficiente para segurar os índices inflacionários.
Ao contrário dos norte-americanos, que talvez estejam mais interessados pelo risco, os investidores europeus podem se apoiar nas criptomoedas, mas principalmente no Bitcoin, como uma forma de proteger parte de seus patrimônios das oscilações governamentais e os conflitos geopolíticos atuais.
De olho na meta
Pelo Brasil, a discussão da vez é a meta fiscal para 2024. Entre a meta “zero” estipulada pelo governo, algumas divergências tomaram conta das análises, abrindo brechas para um possível “esticadinha” para 0,75% ou 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa flexibilidade é vista como necessária por alguns, mas tenebrosa para outros.
De certo mesmo é que a SELIC segue seu recuo. O Banco Central brasileiro divulgou, na última semana, o corte dos juros em 0,5%, totalizando, agora, 12,25%. Este patamar mantém o país ainda em um ambiente monetário bastante restritivo, mas algo que parece que não vai durar por tanto tempo assim.
Se isso já anima os investidores a começarem a se mostrar mais para ações de risco, a queda para 7,7% da taxa de desemprego no trimestre encerrado em setembro é um tempero extra para aumentar esse apetite.
Apesar da SELIC ainda ser alta, as criptomoedas têm sido um item de interesse dentro do mercado nacional. Com o cenário em expansão por aqui e uma economia mostrando sinais bons de equilíbrio, o brasileiro pode estar diante de um bom momento para fazer o famoso buy and HODL.
Vem novembro!
Agora, especificamente sobre o mercado de criptomoedas, o Bitcoin cravou seu tradicional “uptober”, acumulando ganhos de quase 29% no último mês. A abertura de novembro, por enquanto, está trazendo poucas novidades. “Apenas” um teste para romper os US$ 36 mil, mas que não está se sustentando por muito tempo. Com essa falta de força momentânea dos compradores, será que o mercado vai ter forças para engatar a terceira alta mensal consecutiva?
Fato é que as baleias de Bitcoin – investidores com alto volume de BTCs – estão mais ativas do que nunca. A quantidade de transações acima de US$ 100 mil atingiu seu pico anual. Isso aconteceu quando o preço da criptomoeda ultrapassou os US$ 35 mil recentemente, mostrando que as baleias podem estar otimistas ou, então, simplesmente organizando suas posições.
Para além da atividade dentro da rede, os dados on-chain ainda apontam que o cenário não poderia ser mais otimista aos HODLErs. No momento, mais de 80% dos detentores de curto e longo prazos de BTC estão registrando lucros. Porém, vale um alerta. Se tem ganhos, tem chances de realização, ou seja, venda. Para onde a pressão vai pender, difícil afirmar com certeza.
Um termômetro secundário importante vem do mercado de derivativos. A volatilidade recente levou a uma série de liquidações de ambos os lados, sejam de posições compradas ou vendidas. Essa maior instabilidade mostra que muitos investidores não só estão operando de forma alavancada, como também estão especulando de forma intensa a criptomoeda. Portanto, é importante ficar ligado a possíveis pavios nos candles do Bitcoin.
Gráfico grita alguns cuidados
No gráfico semanal do Bitcoin, os investidores precisam ficar bastante alertas para possíveis correções. O primeiro ponto é que a banda de Bollinger simplesmente está sendo ignorada, com o preço da criptomoeda acima da linha superior do indicador. Embora não seja algo tão raro assim, ou a banda ou o preço vão precisar se ajustar em algum momento.
Fonte: GoCharting, em 06/11/2023, às 8h42min.
Outro ponto que demonstra uma possível resistência é que os US$ 36 mil marcou o ponto mais baixo do decote do ombro-cabeça-ombro do último all-time high. Como o preço voltou rapidamente, este é um sinal de que os vendedores estavam bem posicionados nesta região.
Entretanto, correções são bem-vindas no atual momento de mercado. Inclusive, um teste dos US$ 31 mil não seria nada mal para dar mais corpo para a tendência de alta recente. Mesmo assim, os US$ 42 mil continuam como meta, caso os bulls consigam manter o controle das ações.
Entre os indicadores adjacentes, o MACD vai para sua terceira semana consecutiva com as linhas cruzadas para cima, sinalizando o domínio dos compradores. Enquanto isso, o índice de força relativa (RSI) encontrou equilíbrio nos 70 pontos, mas ainda em uma região muito próxima de sobrecompra.
Conclusão
Com o cenário macroeconômico cada vez mais desenvolvido, o apetite ao risco volta para o radar dos investidores, que enxergam nas criptomoedas uma boa oportunidade para diversificar o portfólio. O atual momento de alta do Bitcoin, inclusive, é um dos catalisadores para atrair ainda mais os investidores, no chamado período pré-halving.
Entretanto, como mostra o gráfico, nenhum mercado sobe em linha reta. Correções e testes de suportes fazem parte de um mercado saudável. Os derivativos, porém, podem ser responsáveis por alavancar a volatilidade e deixar a vida do investidor mais caótica. Porém, o aquecimento deste setor também é parte integrante da euforia dos momentos de ganhos. Por isso, take it easy nos próximos dias!