Que final de ano para o mercado de criptomoedas, hein!? Dezembro mal começou, e o Bitcoin (BTC) segue com seu movimento de alta, rumo ao quarto mês consecutivo de ganhos. Já a macroeconomia, neste meio tempo, é a mesma de sempre. Fato mesmo é que os detentores da criptomoeda de referência continuam acumulando, com a maioria das carteiras no positivo. Entretanto, o comportamento técnico de sobrecompra comentado em outros Satoshis Calls, se consolidou, colocando o BTC em posição de baixa na abertura semanal.
A day in the life
Todo mundo ficou de olho no “dia a dia” da vida dos norte-americanos. A grande dúvida era se muitas pessoas estavam saindo de suas casas para trabalhar, ou se os empregos estavam dando aquela relaxada. E parece que relaxou mesmo! A abertura de vagas no setor privado dos Estados Unidos, por exemplo, foi de 103 mil, abaixo das 130 mil esperadas, desacelerando na comparação com outubro. A oferta de trabalho também caiu para 8,7 milhões, número mais baixo desde março de 2021.
Então, o mercado de risco era foguete total, esperando só os famosos dados do payroll para colocar a pá de cal que guiaria praticamente todas as apostas para um corte de juros na próxima reunião do Federal Reserve. Os investidores, porém, só esqueceram de combinar isso com os números. O documento mostra que foram criadas 199 mil novas vagas em novembro, acima das expectativas. Mas, calma! Eram esperadas 180 mil. Então, podemos dizer que no balanço final, o mercado de trabalho mais esfriou (e até meio que elas por elas) do que o contrário.
Enquanto isso, a economia norte-americana vai de grão em grão subindo de patamar. Em novembro, o Índice Gerente de Compras (PMI) de serviços avançou de 50,7 para 50,8. Já o PMI Composto ficou estável nos 50,7. O que é até que animador, considerando o cenário de crédito restritivo no país.
Ao olhar para o cenário macro dos Estados Unidos, há bons sinais de que o mercado de trabalho está encolhendo – o que pode não ser tão bom para as pessoas, mas é visto como positivo pelo Banco Central. Nisso, as apostas seguem elevadas de que o FED vai começar a cortar seus juros já no ano que vem. Se as taxas caem, a tendência é que o mercado de risco suba, incluindo as criptomoedas. Não à toa, vimos o Bitcoin alcançar quase os US$ 45 mil na última semana, indo em direção ao quarto mês seguido de alta. Mas vamos discutir isso mais à frente. Pode acelerar essa fase de alta o pronunciamento do Federal Reserve, nesta quarta-feira, após uma nova rodada de decisão de juros.
Pode soltar o ar, galera
Quem acompanha o Satoshi Call com frequência aqui, sabe o quanto a economia da Zona do Euro estava… Mal, por assim dizer. Na reta final do ano, porém, uma luz no fim do túnel (que pode ser do trenó do Papai Noel) está permitindo um leve respiro aos países integrantes do bloco. No caso, o PMI de Serviços avançou bem: de 47,8 para 48,7. Já o Composto cresceu de 46,5 para 47,6, atingindo a máxima dos últimos quatro meses. Então, apesar da insistência de fixar os pés em território de retração, é melhor subir do que continuar caindo.
Para aqueles que vão direto para o Produto Interno Bruto (PIB) podem ver um cenário nem tão confortável. Afinal, no último trimestre, a economia da região recuou em 0,1% e se manteve estável em 0,0% na comparação anual. É evidente que este está longe de ser o desempenho dos sonhos, mas os dados estão, se não alinhados, muito próximos às expectativas dos analistas.
Em relação aos preços, outra melhora. A inflação ao produtor (PPI) recuou 9,4% em outubro, na base anual, mantendo sua tendência de queda. Essa desaceleração tem levado alguns membros do Banco Central Europeu (BCE) a declarar que o aperto monetário, sim, acabou por lá. Porém, falar em corte de juros no curto prazo pode ser um exagero.
Ao contrário dos Estados Unidos, uma estagnação econômica na Europa está mais no radar. Até porque, a região enfrentou grandes problemas nos últimos dois anos, principalmente em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia. Esses avanços no bloco, entretanto, podem revitalizar a energia do mercado, que se vê migrando menos para o dólar e se estabelece no bloco, em busca de outros ativos.
Back on track
Recentemente, a segunda maior economia do mundo passou por uns tropeços. Era um indicador positivo aqui, outro negativo ali, mas coerência que é bom mesmo faltava. E isso acabou pressionando, por muitas vezes, o governo chinês a criar mais e mais incentivos para estimular a economia local. Nisso, o minério de ferro, um dos principais motores do país, simplesmente disparou.
Mas ao olhar para os dados, podemos ter uma visualização melhor. O PMI de Serviços avançou de 50,4 para 51,5, em novembro, enquanto o Composto subiu de 50,0 para 51,6, consolidando sua posição em um território de expansão. No mesmo caminho, as exportações cresceram 0,3%, mas as importações diminuíram 0,5%, meio que criando um equilíbrio no fim do dia. Essa melhora acompanhou ainda os dados inflacionários da China, que mostram uma arrefecimento dos preços aos produtores e consumidores.
Considerado o segundo maior mercado de criptomoedas do mundo, é evidente que dados positivos da economia chinesa pode fazer com que o comportamento dos investidores oscile, mostrando otimismo com as criptomoedas ou com papéis do governo, setor imobiliário e outras ações tradicionais por lá.
Sobe, sobe e sobe…
Favoráveis ou não, as condições econômicas globais não parecem ter tido, mais uma vez, um grande impacto no preço do Bitcoin. A criptomoeda de referência seguiu sua tendência de alta e buscou uma máxima de US$ 44,5 mil. Mais do que isso, o ativo registrou sua oitava alta semanal consecutiva, e abre dezembro na tentativa de acumular o quarto mês positivo. Este desempenho mensal não era visto desde outubro de 2020, no início da última bull-run. Porém, a necessidade de realização de lucros foi responsável por corrigir o valor da criptomoeda logo nesta segunda-feira.
Foco nos derivativos
Apesar de ser muito especulativo, os derivativos são um bom termômetro para medir o sentimento dos investidores. Na semana passada, o vencimento de opções mostrava que boa parte das posições de compra estava na região dos US$ 44 mil, e de venda em US$ 42 mil. Uma faixa de preços até que bem estreita.
Acompanha essa perspectiva mais “otimista” o fato de a taxa de financiamento (funding rate) em algumas exchanges estar bem acima da neutralidade (0,01%). Com os valores acima desta porcentagem, é um bom sinal de que há mais contratos futuros de compra em aberto do que de venda. Isso acontece mesmo com o esperado adiamento da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) para um ETF de Ethereum (ETH) à vista da GrayScale.
O problema disso é que as oscilações de preços mais bruscas tendem a ser mais comuns nestas situações, a partir da liquidação de contratos futuros comprados. Neste caso, o mecanismo das bolsas obriga investidores muito alavancados a venderem suas posições, caso um determinado valor do seja acionado. Isso desencadeia um choque de oferta e demanda, intensificando a baixa de preços.
Renovando as máximas
O desempenho do Bitcoin renovou suas máximas do ano, assim que atingiu os US$ 44,5 mil. O nível fez com que 88% dos detentores de BTC estivessem registrando lucro em suas carteiras. Mais do que isso, dados on-chain mostram que muitos dos que compraram a criptomoeda entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021 ainda não venderam seus ativos, mesmo com a possibilidade de lucros expressivos no período.
Enquanto a cautela ainda pode ser um sentimento constante no mercado, os investidores estão injetando cada vez mais dinheiro no setor. Só este mês, foram mais de US$ 20 bilhões aplicados. Não à toa, a dominância da criptomoeda em relação a todo o setor avançou para 55% antes de recuar para 53%, indicando uma forte entrada de capital.
Exigência de correção técnica
Para quem acompanha o Telegram da Foxbit e o Satoshi Call com frequência, já deve ter se deparado com a análise a seguir. O gráfico diário estava gritando por um ajuste corretivo de preços ou pelo menos uma lateralização um pouco mais prolongada. Afinal, muitos indicadores foram rompidos ou estão em território de forte sobrecompra.
Fonte: GoCharting, em 11/12/2023, às 9h19min.
O preço de negociação conseguiu voltar para dentro dos limites da banda de Bollinger. Porém, há a possibilidade de um teste do topo do recente canal de alta, assim como as medianas da faixa e da Bollinger bands, assim como o nível inferior do canal, que coincide com a última grande resistência de preços.
Enquanto isso, os indicadores adjacentes começam a respirar, depois de uma certa exaustão. O MACD começa a reaproximar suas linhas, após um forte rompimento para cima das médias. Já o Índice de Força Relativa (RSI) mira os 63 pontos, revertendo um intenso território de sobrecompra.
Tendência de alta com sentido, mas…
Quando olhamos para o gráfico semanal, o desempenho do Bitcoin nos últimos dias fez muito sentido. Afinal, para romper a mediana do canal de alta, era preciso muita força dos compradores em um período específico. O movimento foi tão forte que não só rompeu a média, como ainda encostou no topo da faixa, quebrando – por enquanto – a resistência mais alta do último ombro-cabeça-ombro (OCO).
Fonte: GoCharting, em 11/12/2023, às 9h23min.
Porém, a realização de lucros falou mais alto, devolvendo o ativo para abaixo da média do canal e mirando os US$ 40,3 mil como suporte imediato, seguido pelos US$ 36,2 mil, região do ombro mais baixo do famoso OCO. Já os US$ 31,3 mil ainda estão em jogo, considerando a posição da última grande resistência e da mediana da banda de Bollinger.
Enquanto isso, o MACD segue com as linhas afastadas, mostrando ainda a força dos investidores em prazos um pouco maiores, enquanto o RSI vai para 76 pontos, arrefecendo a tendência sobrecomprada do ativo.
Curva do espaço e tempo
Se afastar da montanha pode ser a melhor opção neste momento. E ao olhar para o gráfico mensal, não quer dizer que ele esteja estourado, mas o comportamento dos investidores de médio prazo parece um pouco mais claro.
Fonte: GoCharting, em 11/12/2023, às 9h22min.
O canal de alta, iniciado em janeiro deste ano, está sendo rompido em dezembro, passando a buscar a próxima resistência, que marca o decote do OCO. Em contrapartida, o topo do canal: US$ 41 mil, e a última grande barreira de alta (linha preta) podem servir de suportes importantes mais à frente.
Já o MACD cruzou recentemente suas linhas para cima, mostrando que há espaço para que os investidores sigam seus planos de ganhos. O mesmo vale para o RSI, que atingiu agora os 62 pontos, em um mercado considerado até que muito bem equilibrado.
Conclusão
Sim, o mercado de criptomoedas está otimista e a primavera chegou! Mas nem por isso a gente precisa ficar enlouquecido. Afinal, a reta final do ano pode ser complexa, algo que os norte-americanos chama de “tricky”. Ainda mais com esses papos de Bancos Centrais e a enrolação bruta da SEC para validar ou não os ETFs de Bitcoin à vista nos Estados Unidos.
Fato é que a análise técnica já estava implorando por uma correção de preços ou pelo menos uma lateralização. Praticamente todos os indicadores estavam (e ainda estão um pouco) “estourados”, exigindo uma boa dose de cautela ou pelo menos mãos firmes e gerenciamento de risco neste período. A tendência macro, porém, parece intacta, com o médio prazo sinalizando perspectivas interessantes e menos exaustão.
Por isso, olhos atentos para o comportamento do mercado e uma dose de paciência nas próximas semanas. Lembre-se de que o halving do Bitcoin está previsto para abril do ano que vem – cerca de 150 dias. Quem estiver com uma estratégia de HODLIing pode ser recompensado no futuro, caso a perspectiva histórica se repita.