Muita coisa a se pensar
Um “estranho” movimento está acontecendo nos Estados Unidos. Mas para contextualizar, se liga nisso aqui: Os pedidos de seguro-desemprego recuaram em relação à semana anterior, vindo ainda abaixo do esperado. Embora isso sinalize que o mercado de trabalho ainda está aquecido, a diferença também não é lá essas coisas.
Já o Índice Gerente de Compras (PMI) Composto – que une serviços e indústria – veio em 50,7, o mesmo nível de outubro, ainda indicando que, sim, o país está em território de expansão econômica. Com isso, aquele receio de uma estagflação, em que o governo vê a inflação predominante e a economia em recessão parece cada vez mais distante.
Com isso, a narrativa apontada pelo Federal Reserve nas últimas semanas de que os juros já podem estar em um nível restritivo o suficiente para conter os preços faz muito sentido, não é mesmo? Pois é! É aí que entra esse movimento “estranho”. No final da última semana, os títulos do tesouro norte-americano de 10 anos voltaram a subir.
Isso levanta a suspeita de que os investidores esperam mais um aumento de juros no curto prazo? Ou seria apenas uma galera atrasada chegando para a festa? Se for para especular alguma coisa – baseado em nada com coisa nenhuma –, talvez parte do mercado estivesse na esperança de que o feriado de thanksgiving, seguido pela Black Friday, fosse capaz de aquecer o consumo e consequentemente a inflação. Assim, exigindo uma última ação do FED.
Claro que é extremamente difícil cravar o motivo deste comportamento do mercado. Mas a realidade é que esta procura pelos famosos “T10” coloca uma pressão no mercado de risco, principalmente o acionário, que vê uma ligeira fuga de capital. Interessante, porém, que o Bitcoin não só não sentiu os impactos dessa decisão, como ainda parece ter minimamente se beneficiado no dia, com uma alta de preços no período.
Não é bem assim a história
Recentemente, boa parte do mercado reagiu de forma positiva ao entender que o Banco Central Europeu (BCE) não iria mais aumentar os juros, repetindo o movimento mais “dovish” dos Estados Unidos. A ata da última reunião do BCE parece ter “confirmado” esse sentimento, que não necessariamente é tão positivo assim.
Segundo o documento, o possível fim do aperto monetário na Zona do Euro se dá não pela queda na inflação – que de fato está acontecendo –, mas pelo fraco desempenho econômico do bloco. Para se ter uma ideia, o PMI Composto até avançou de 46,5 para 47,1 na preliminar de novembro. Isso, porém, sustenta a região em território de contração, ao contrário dos norte-americanos.
Desta forma, a Zona do Euro segue aquele carro 1.0, que está passando um sufoco para acelerar na subida. Essa morosidade talvez seja o que reflete o avanço em algumas regulamentações do mercado de criptomoedas, assim como o lançamento de produtos institucionais. Afinal, sem um “T10” forte, as moedas digitais parecem ser um caminho viável para diversificar.
Polêmicas que bagunçam o Bitcoin
Na abertura desta semana, o Bitcoin segue sua luta na região dos US$ 38 mil. Porém, ninguém sabe muito bem para onde o mercado está indo. Afinal, algumas polêmicas – na realidade, apenas uma – deu aquela famosa bagunçada no mercado que derrubou o preço do ativo em um dia, e recuperou tudo no outro.
O grande catalisador para essa volatilidade, claro, é sempre a tal especulação. Porém, de onde ela veio? Neste caso, a bagunça toda começa com a renúncia do cargo de CEO da Binance pelo famoso Changpeng Zhao (CZ). A decisão foi tomada após a exchange se dizer culpada por falhar na segurança de sua plataforma para impedir a lavagem de dinheiro.
Este movimento repentino surpreendeu os investidores, que começaram a imaginar o que mais estaria por vir. Afinal, a decisão praticamente favorável ao governo pode devolver boa parte da força da Comissão de Valores Mobiliários do país (SEC) para seguir sua repressão ao mercado de criptomoedas. Vale, porém, destacar que esta frase, nem de longe, isenta CZ e seus parceiros de possíveis falhas. O comentário é muito mais macro, considerando o comportamento do presidente da SEC, Garry Gensler, e outras autoridades, que parecem caminhar muito mais para uma repressão do que para uma regulamentação.
HODL especulativo
Quando vamos atrás de pistas para entender os próximos passos do Bitcoin, a gente se depara com uma divergência bem interessante. De um lado, os dados on-chain mostram que mais de 70% da oferta circulante da criptomoeda está parada há mais de um ano, indicando um forte comportamento de HODL Pelo outro, o mercado de derivativos está aquecido.
Só na última semana, mais de US$ 20 bilhões em opções estavam para vencer na sexta-feira. Deste montante, quase 70% eram de contratos de compra. Claro que esta é uma leitura muito simplista e que ignora uma série de estratégias de investimento e proteção. Mesmo assim, é um número que chama a atenção como os bulls estavam bem posicionados recentemente.
Fora isso, os investidores institucionais estão comendo pelas beiradas. Conforme apontaram os exploradores de blockchain e balanços corporativos, empresas investiram US$ 1 bilhão ao longo de todo o ano de 2022. Já na última semana, esses mesmos US$ 1 bilhão foram atingidos em apenas cinco dias. Ou seja, mesmo sem o ETF de Bitcoin à vista aprovado nos Estados Unidos, a fome deste lado do mercado parece bem aberta.
Dá para ler o gráfico?
O Bitcoin entrou em um processo meio lateral nas duas últimas semanas. O que é até compreensível, depois das fortes altas recentes. Porém, ao olhar para o gráfico semanal, conforto não é a palavra que a gente pode encontrar aqui. Pelo menos não como gostaríamos.
Podemos dizer com quase toda a certeza de que o padrão cup and handle foi vencido. Mesmo assim, vou manter ele em nossa leitura por mais algum tempo. Outro ponto positivo é que a linha superior da banda de Bollinger serviu como resistência ao preço, ajustando novamente o indicador ao mercado.
Fonte: GoCharting, em 27/11/2023, às 9h10min.
Mais um gostinho bom vem dos pavios que tentaram romper para baixo – mas sem sucesso – a linha laranja “Resistência 1” rompida no início do mês. Esta região, inclusive, marca a zona mais baixa do decote do último ombro-cabeça-ombro.
Legal, mas por que isso não é confortável? O primeiro ponto que levanta dúvidas sobre uma possível correção de preços é que o Bitcoin fechou sua sexta semana consecutiva de forma positiva. Como a gente bem sabe, nenhum mercado sobe em linha reta. E se quisermos ver movimentações mais robustas e sólidas para cima, novos suportes precisam ser criados a partir dessas quedas.
Mais do que isso, o Índice de Força Relativa (RSI) voltou aos 75 pontos, caminhando novamente para um cenário de sobrecompra – os livros indicam que 70 já é sobrecompra, mas eu gosto de estender para 80, por conta da volatilidade do BTC. Isso sugere que o mercado está muito aquecido e alguém vai precisar realizar lucro.
Isso quer dizer, então, que o Bitcoin vai cair? Não necessariamente. A manutenção do preço acima da linha laranja de “Resistência 1” pode ser responsável por alavancar o preço da moeda digital para a região dos US$ 42 mil, como já vem sendo discutido nos últimos Satoshi Calls. Caso contrário, uma visita aos US$ 31 mil começa a se fazer ainda mais possível.
Conclusão
As instabilidades macroeconômicas continuam não sendo mais tão capazes assim de causar grandes efeitos no preço do Bitcoin e no mercado de criptomoedas. Entretanto, os sinais são tão mistos lá fora, que talvez os investidores estejam atuando no modo “esperando para ver”. Isso justificaria esse clima mais ameno, apesar dos solavancos da vida.
Enquanto isso, o Bitcoin entra em uma zona complexa, em que parte da leitura gráfica chega até a sugerir que a alta do BTC deve continuar no curto prazo. Porém, a sobrecompra do ativo é um ponto-chave a se acompanhar, pois não só a correção de preços seria esperada, como também natural.