Satoshi Call
A volatilidade deu as caras novamente no mercado, com o Bitcoin (BTC) registrando mais perdas nesta semana, mesmo após ventos regulatórios positivos vindos dos Estados Unidos. A realidade é que a bateria de dados econômicos mostrou muito mais confusão do que um direcionamento claro, colocando as perspectivas de redução do aperto monetário e recuperação da economia das principais potências em xeque. De qualquer forma, o comportamento das carteiras sinaliza que os investidores institucionais parecem estar fortalecidos no jogo, podendo movimentar os preços da criptomoeda de referência novamente.
Que confiança, hein!?
Na última semana, o mercado seguiu digerindo as falas do presidente do Federal Reserve (FED), Jerome Powell, de que os Estados Unidos podem manter o avanço de juros no curto prazo. Entretanto, os investidores deram de ombros, com 93% apostando em uma pausa no aperto monetário na reunião deste mês. Esse volume, inclusive, praticamente ignora o avanço do Índice de Bens de Consumo (PCE), um dos indicadores favoritos do FED para medir a inflação, assim como a queda no Índice Gerente de Compras (PMI) Industrial, que acentuou sua retração.
Agosto | Projeção | Julho | |
PCE | 3,3% | 3,3% | 3,0% |
Núcleo PCE | 4,2% | 4,2% | 4,1% |
PMI Industrial | 47,9 | 47,0 | 49,0 |
Trabalho x Inflação
Outro ponto que o FED fica de olho para definir sua trajetória nos juros é no mercado de trabalho. Os dados da semana passada chamaram a atenção, pois a maioria dos indicadores de empregos dos Estados Unidos apontaram em queda, exceto o payroll – que mede o número total de empregados pagos no país, excluindo trabalhadores agrícolas, funcionários do governo, empregados de organizações sem fins lucrativos e trabalhadores domésticos. Assim, há dúvidas sobre, de fato, se o setor empregatício está ou não aquecido, aumentando as dúvidas em relação ao que os formuladores de política monetária poderão fazer na próxima reunião.
Agosto | Projeção | Julho | |
Variação de Empregos Privados | 177 mil | 195 mil | 371 mil |
Relatório JOLTs | 8,8 milhões | 9,4 milhões | 9,1 milhões |
Payroll | 187 mil | 170 mil | 157 mil |
Taxa de Desemprego | 3,8% | 3,5% | 3,5% |
Descendo incentivos
Após o alarde em cima dos fracos dados econômicos da China, a última semana serviu para reajustar as expectativas sobre a segunda maior economia do mundo. Não só os principais PMIs avançaram, como a revisão feita pela Caixin colocou o setor industrial em expansão novamente.
Agosto | Projeção | Julho | |
PMI Industrial | 49,7 | 49,4 | 49,3 |
PMI Industrial Caixin | 51,0 | 49,3 | 49,2 |
PMI Não-manufatura | 51,0 | 51,1 | 51,5 |
PMI Composto | 51,3 | – | 51,1 |
Apesar da melhora nos indicadores internos, o governo segue adicionando incentivos à economia. Recentemente, o país cortou as taxas de transações na bolsa para aquecer o mercado financeiro. Enquanto isso, cinco dos maiores bancos do país cortaram as taxas de juros dos depósitos em yuan, apoiados por iniciativas das autoridades chinesas.
Apatia geral
Na Zona do Euro, a situação é um pouco mais complexa. A bateria de dados da última semana colocou ainda mais pressão sobre a já fragilizada e inflacionada economia europeia.
Agosto | Projeção | Julho | |
Confiança do Consumidor | -16,0 | -16,0 | -15,1 |
Confiança Serviços | 3,9 | 4,2 | 5,4 |
Confiança Industrial | -10,3 | -9,9 | -9,3 |
PMI Industrial | 43,5 | 43,7 | 42,7 |
Os esforços dos formuladores de política monetária também não parecem estar surtindo o efeito esperado, com a inflação ao consumidor (CPI) praticamente estagnado, apesar da retração do núcleo do indicador.
Agosto | Projeção | Julho | |
CPI | 5,3% | 5,1% | 5,3% |
Núcleo CPI | 5,3% | 5,3% | 5,5% |
Taxa de Desemprego | 6,4% | 6,4% | 6,4% |
Caminho positivo
Pelo Brasil, as projeções otimistas para o final do ano podem sofrer uma ligeira pausa, com um recuo abaixo do esperado da inflação, mas em meio ao avanço do Produto Interno Bruto do segundo trimestre (Q2) e a retomada da Indústria em território de expansão.
Julho | Projeção | Junho | |
PIB Q2 | 3,4% | 2,7% | 4,0% |
Inflação ao Produtor | -0,82% | -2,99% | -2,72% |
PMI Industrial (ago) | 50,1 | 47,2 | 47,8 |
Destaque também para a Câmara dos Deputados, que aprovou a desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia até 2027. Já o mercado de trabalho apresenta equilíbrio, com leve retração do desemprego no país.
Agosto | Projeção | Julho | |
Criação de Empregos | 142 mil | 140 mil | 157 mil |
Taxa de Desemprego | 7,9% | 7,9% | 8,0% |
Respira fundo
Nesta semana, muitos dados econômicos importantes serão divulgados, podendo movimentar a maioria dos mercados de risco e, claro, o de criptomoedas. Na China, saem as revisões dos PMIs da Caixin, CPI, Exportações e Importações. Pela Zona do Euro, conheceremos os PMIs de Serviços e Composto, Vendas no Varejo, Variação de Empregos e PIB. Os Estados Unidos preparam os dados de Exportações, Importações e PMI de Serviços. No Brasil, teremos a Produção Industrial e PMIs Composto e de Serviços.
Novas quedas a caminho?
O Bitcoin fechou agosto com uma queda de 11,29%, sendo este o pior mês para o desempenho da criptomoeda este ano e marcando a segunda retração consecutiva. Ao longo da semana passada, a criptomoeda de referência até esboçou uma recuperação aos US$ 28 mil, mas a volatilidade reverteu, colocando o mercado em baixa novamente. O receio dos investidores, portanto, está de volta ao jogo, com parte dos analistas esperando novas quedas no curto prazo, ainda mais que setembro costuma ser um mês negativo para a moeda digital. Apenas em quatro, dos últimos 13 anos, que o BTC encerrou o período em alta.
Checagem da rede
Apesar da queda de preços, a blockchain do Bitcoin está mais saudável do que nunca. A taxa de hash atingiu 400 th/s pela primeira vez na história, mesmo considerando o aumento dos custos de eletricidade em todo o mundo.
Especula-se que essa aceleração acompanhe um movimento de preparação pré-halving. Neste caso, os mineradores estariam aproveitando o momento para obter mais unidades da criptomoeda, antes que suas recompensas sejam reduzidas em meados do ano que vem.
Em contrapartida, o provável reajuste da dificuldade de mineração nesta semana está sendo possivelmente antecipado pela queda de BTC em estoque por este grupo.
Já os HODLErs permanecem dominantes no mercado. Não só o número de Bitcoins está avançando nesse tipo de carteira, como 40,53% de todo a oferta disponível não se movimenta há mais de três anos.
De olho nos institucionais
Com a tentativa da BlackRock em aprovar um ETF de Bitcoin à vista, o apetite dos investidores institucionais parece que foi reacendido ou, pelo menos, está mais evidente ao mercado.
As informações sugerem que aproximadamente 27,7 mil BTC foram transferidos de exchanges para carteiras de grande volume, indicando um possível interesse desse grupo de investidores. Só a Robinhood possui cerca de US$ 3 bilhões da criptomoeda armazenados em uma única carteira.
Esse acúmulo acompanha ainda uma série de decisões judiciais que estão aumentando as expectativas em relação a este setor. Uma delas deu vitória da GrayScale contra a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados (SEC), levando à revisão do pedido para alterar fundo GBTC em um ETF de BTC spot. Ao mesmo tempo, a X – antigo Twitter – também recebeu o aval legal para operar pagamentos em criptomoedas e outros serviços relacionados, como exchanges e wallets digitais.
Mesmo com esse otimismo, há ainda muitas incertezas pairando sobre os investimentos institucionais. Afinal, a SEC pode voltar a negar os pedidos, após suas revisões. Inclusive, os reguladores parecem estar esperando por algum sinal específico para atuar sobre esta situação, pois assim que perdeu o processo judicial contra a GrayScale, a instituição adiou a decisão sobre os ETFs da WisdomTree, Invesco e Valkyrie
Ainda dentro do suporte
Ao observar o gráfico semanal, o Bitcoin recuou rapidamente seu preço e foi buscar as mínimas da semana de 12 de junho. As bandas de Bollinger seguem sendo bons indicativos de preços, com a mediana servindo de resistência para a última tentativa de avanço. Já as extremidades abandonam a configuram mais paralela e começam a migrar para uma tendência de baixa.
Fonte: TradingView, em 04/09/2023, às 8h30min.
A linha azul, entretanto, em US$ 24,3 mil, marca a última barreira forte de preços, que manteve o BTC em alta no início do ano. Desta forma, mesmo que a correção pressione ainda mais o ativo, este nível pode servir de trampolim para os preços e uma consequente reversão de tendência.
Nos indicadores subjacentes, o MACD segue com suas linhas cruzadas para baixo, apontando a força dos bears neste mercado. Já o Índice de Força Relativa (RSI) vai para os 44 pontos, indicando o mercado mais vendido no momento.
Conclusão
A queda de preços do Bitcoin é, sim, um momento de ligar ainda mais o sinal de alerta para não se assustar com novos recuos. É nítido que a economia global capenga, e as divergências entre fato e comportamento devem manter os mercados cada vez mais voláteis e incertos.
Mesmo assim, os fundamentos das criptomoedas apontam para um cenário possivelmente otimista. Afinal, a pressão que a SEC está sofrendo com os pedidos de ETF de BTC à vista e as constantes perdas judiciais – vide Ripple Labs e GrayScale –, podem fazer com que o órgão regulador perca a queda de braço e abra espaço para um desenvolvimento mais facilitado ao desenvolvimento deste mercado.