A cautela é o nome do jogo dos mercados para esta semana. Os dados do setor empregatício norte-americano deixaram os investidores perdidos e pouco confortáveis com a situação monetária dos Estados Unidos. Por isso, aumenta a pressão sobre os juros do país. Ao mesmo tempo, a retomada das negociações na China, pós-feriado, deve adicionar uma boa volatilidade às ações e criptomoedas, enquanto as tristes tensões geopolíticas em Israel podem conturbar o petróleo. Em meio a isso tudo, o Bitcoin briga na região dos US$ 28 mil, enquanto observa um crescimento da acumulação e, principalmente, do mercado de derivativos da criptomoeda.
Mais um triste capítulo
Pouco mais de um ano após o início da guerra na Ucrânia – que ainda não teve fim – o mundo está vivenciando mais um conflito importante, desta vez em Israel. É extremamente triste ver vidas sendo perdidas, enquanto grupos e governos se digladiam em suas guerras. Mas como uma discussão social e filosófica não é o objetivo do Satoshi Call, vou destacar, além do óbvio, as consequências econômicas que esse conflito pode trazer ao mundo.
Neste caso, estamos falando do petróleo. Israel não é um grande produtor dessa base de energia global. Mas o Irã, que apoia o Hamas, sim! Embora os ataques não estejam ainda localizados nas regiões petrolíferas, especialistas começam a se questionar como a expansão e prolongamento da guerra pode afetar a produção local de combustíveis, assim como possíveis sanções econômicas levem o governo iraniano a fechar suas torneiras ao exterior. Esse receio já elevou o preço do barril em 4% esta manhã.
Com a valorização do petróleo, a tendência é que os custos dos transportes de matérias-primas e produtos finais se elevem, o que impacta diretamente na inflação. Essa pressão é semelhante ao que aconteceu quando a Rússia sofreu sanções econômicas, após invadir a Ucrânia. Como resposta, Vladimir Putin decidiu cortar alguns fornecimentos de gás, aumentando consideravelmente o preço da energia em muitos países europeus.
Isso aqui tá certo?
A expectativa dos investidores em relação aos dados do mercado de trabalho norte-americano deram lugar a uma enxurrada de dúvidas. As informações apresentadas ao longo da semana foram bastante conflitantes, com o Payroll sendo o fiel da balança para “decidir” a situação.
Considerando os números divulgados, a situação empregatícia do país segue bastante aquecida, com quase o dobro – em relação às estimativas – de novos trabalhadores . Isso acaba colocando ainda mais pressão sobre o Federal Reserve, que pode usar a oportunidade para voltar a elevar os juros novamente.
Setembro | Projeção | Agosto | |
Payroll | 336 mil | 170 mil | 227 mil |
Taxa de Desemprego | 3,8% | 3,7% | 3,8% |
Jerome Powell, inclusive, realizou um breve discurso na Pensilvânia, na última semana, reforçando que o foco do Banco Central é gerar uma “economia saudável” e um mercado de trabalho “forte”. Essa fala, entretanto, caminha ligeiramente na contramão do que os formuladores de política monetária discutem recentemente. As autoridades apontam que os resilientes empregos tem sido o principal catalisador para a manutenção do aperto monetário.
Apesar dos esforços para um “pouso suave” e evitação de uma estagflação, a realidade é que há poucos sinais de que a economia dos Estados Unidos, de fato, está andando. Os Índices Gerente de Compras (PMIs) Industrial, de Serviços e Composto até vieram em linha ou acima das expectativas dos analistas. Entretanto, não destacam uma melhora significativa e, em alguns casos, apontam um retrocesso. Mas se vale um ponto “positivo” nesta história, é que a desaceleração está justamente na área de Serviços, em que a pressão inflacionária tende a ser maior.
Na contramão de tudo
Na Zona do Euro, a economia está o oposto do que caminha a norte-americana. Enquanto os PMIs ainda apontam uma retração dos principais motores locais, o setor de Serviços permanece em expansão. Com isso, a inflação ao consumidor (CPI) pode ser pressionada para cima, enquanto os dados mostram que os preços ao produtor (PPI) permanecem em recuo.
Setembro | Projeção | Agosto | |
PMI Serviços | 48,7 | 48,4 | 47,9 |
PPI | -11,5% | -11,6% | -7,6% |
A taxa de desemprego no bloco também recuou, embora bem pouco. Mesmo assim, mostra que o mercado de trabalho pode estar ligeiramente aquecido. Ou seja, mais um problema para o Banco Central Europeu (BCE) analisar.
Que descanso, hein?
Após uma semana de feriado prolongado, a China, enfim, reabriu seus mercados na última noite, colocando mais lenha na fogueira do volátil mercado financeiro. As expectativas são distintas, com os investidores de olho em como os chineses vão reagir ao gigante rendimento dos títulos do tesouro norte-americano, a crise da incorporadora imobiliária Evergrande, e, claro, a guerra em Israel.
BACEN tá otimista
Os últimos dados econômicos têm mostrado uma certa flutuação no Brasil. O Índice Gerente de Compras Industrial, por exemplo, voltou ao território de contração, o que pode pressionar o setor e as perspectivas do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Em contrapartida, a produção industrial apontou alta de 0,5%, em agosto, contra -1,1% registrado no mês anterior.
Em evento na Associação Brasileira de Câmbio, o presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, disse ver com bons olhos o comportamento dos preços de alimentos e bebidas no país. A autoridade monetária comentou ainda que o caminhar da inflação está relativamente dentro das metas do BACEN para este e os próximos anos.
Na luta pelos US$ 28 mil
Após um período de baixas, o Bitcoin esboçou uma recuperação de preços, seguindo até mesmo a perspectiva técnica apontada em Satoshi Calls anteriores. Mas a realidade, é que os US$ 28 mil seguem sendo uma pedra no sapato dos touros, que sentem a pressão dos vendedores neste nível. A narrativa, porém, de que a criptomoeda está operando cada vez mais dentro de seus próprios fundamentos se faz valer, em partes. Afinal, pelo menos até agora, nenhum movimento muito brusco aconteceu ao ativo, diante dos diversos eventos macroeconômicos e geopolíticos recentes.
Olhinho na rede
Dados on-chain mostram o comportamento da rede, a análise da distribuição de oferta mostra o interesse de três grandes grupos de detentores do ativo: carteiras com 10 a 100 BTCs, 100 a 1 mil moedas e 1 mil a 10 mil tokens. De acordo com a Santiment, essas carteiras têm acumulado ferozmente desde o início do mês passado. No total, os registram apontam que tubarões e baleias, juntas, adquiriram um combinado de US$ 1,17 bilhão em Bitcoin, no período.
Operações futuras
Outra forma de medir o apetite dos investidores está no mercado de derivativos. Desde agosto, há um aumento significativo no número de posições abertas de contratos futuros e também de opções. Embora não seja possível medir estratégias, como o mesmo investidor possuindo contratos de compra e venda para reduzir seus riscos, a realidade é que o setor está, de fato, mais aquecido, como aponta o gráfico abaixo.
Entretanto, há uma pequena pista para identificar se o mercado está mais posicionado para compra ou venda, que é o funding rate ou taxa de financiamento. Como mostra a imagem a seguir, a taxa atual está, em média, em 0,003. Isso aponta que os bears ainda são maioria, já que o nível está abaixo do tradicional 0,01%, considerado “neutro”. Mesmo assim, é possível notar que o movimento de alta do funding segue o mesmo comportamento do crescente volume de posições abertas. Assim, pode-se supor que os bulls estão começando a dar mais as caras pelos mercado.
O que dizem os gráficos?
As bandas de Bollinger seguem espremidas, apontando o atual cenário de baixa volatilidade para o Bitcoin. Entretanto, o padrão cup and handle ainda se faz valer, com o preço da criptomoeda estabelecido acima do canal de baixa responsável pela “alça” do desenho, mesmo com o mercado em queda nesta manhã. Em contrapartida, a mediana da banda atuou como uma resistência no fechamento da semana anterior, o que pode dificultar a vida dos bulls no curto prazo e levar o preço do ativo para baixo.
Fonte: TradingView, em 09/10, às 8h29min.
Nos indicadores adjacentes, o MACD continua com o movimento de aproximação de suas linhas, sugerindo que os compradores estão cada vez mais fortalecidos neste momento de mercado. Já o Índice de Força Relativa (RSI), mira os 51 pontos, acompanhando esse ligeiro crescimento dos touros.
Conclusão
O Bitcoin vem mostrando resiliência a certos eventos macroeconômicos. Mas nem por isso é possível se descuidar deles. A retomada das negociações na China pós-feriado, as tensões geopolíticas em Israel e dados inflacionários nos Estados Unidos estão à mão para bagunçar todo o mercado.
Entretanto, a perspectiva de acumulação pré-halving ainda está presente, com as carteiras seguindo seu viés de compras há meses. A retomada de uma situação mais especulativa, com o aumento de posições abertas no mercado de derivativos, pode ser a fagulha que faltava para dar uma movimentação maior no preço do Bitcoin – seja para cima ou para baixo.