O mundo tokenizado
Hoje em dia, o acesso a investimentos financeiros tradicionais é bastante complexo, cheio de burocracias e boa parte das informações sobre um ativo financeiro específico está concentrado na mãos de intermediários que atuam na comercialização desses instrumentos financeiros. Além disso, é muito difícil saber por quais mãos determinado ativo já passou ou sobre o que exatamente ele se trata.
O processo de tokenização da economia, ou seja, a transformação de ativos financeiros em tokens proverá uma quantidade imensurável de informações aos consumidores e permitirá que eles possam acessá-los de maneira muito mais simples, rápida e barata. A plataforma do Ethereum possui a infraestrutura necessária para que essa revolução aconteça.
Embora tenhamos a tendência de pensar que os mercados financeiros globais são tão líquidos quanto possível, isso só é verdade para pessoas e organizações que já estão no “sistema”, ou seja, corretores e instituições financeiras. O cliente final é obrigado a percorrer todos os níveis burocráticos e de conformidade para abrir uma conta, assinar contratos, pagar comissões etc. Isso também se aplica para investimentos em empresas em crescimento, cujo acesso é concedido apenas a investidores credenciados.
A estrita regulamentação do mercado para os usuários finais levou à demanda por alternativas, que inesperadamente liberaram o mercado de criptomoedas. Assim que as pessoas começaram a acreditar que este mercado permitia que eles não só entrassem, mas também se retirassem livremente, a liquidez aumentou, o mercado cresceu absurdamente e o número de ofertas iniciais de criptomoedas (ICOs) cresceu exponencialmente.
A burocracia é a principal razão pela qual um investidor pode mudar de ideia sobre a abertura de uma conta tradicional de investimentos. Uma questão secundária é a baixa usabilidade do software de negociação, como um home broker, pois é necessário estudar ou confiar o trabalho a um terceiro. Problemas mais fundamentais – como a necessidade de confiança nos intermediários, a baixa integração das infraestruturas e a velocidade das liquidações – estão em terceiro lugar.
Indiretamente, a tokenização criou uma forma para sistemas extremamente simples e convenientes, onde, dentro de 20 minutos, você pode enviar dinheiro para a corretora, fazer a negociação e retirar capital.
Em essência, a tokenização é o processo de transformação do armazenamento e gerenciamento de um ativo, quando cada ativo é atribuído a uma contrapartida digital em um blockchain.
Idealmente, tudo o que acontece em um sistema de contabilidade digital deve ter implicações legais, assim como as mudanças em um registro imobiliário levam a uma mudança na propriedade da terra. A era da tokenização introduz a importante inovação de que os ativos são gerenciados diretamente pelo proprietário em vez de gerenciar ativos através da emissão de pedidos para um intermediário.
A diferença de abordagem é facilmente explicada pelo exemplo da diferença entre o sistema bancário e o ether. Com uma conta bancária, o cliente envia uma instrução para um banco onde é executado por alguém e o cliente se identifica através de seu login e senha. No caso do ether, o iniciador da transação usa sua assinatura digital, que em si é uma condição suficiente para que a transação seja executada.
Nada impede o uso do mesmo mecanismo para gerenciamento de ativos tradicionais. Certamente, isso exigirá uma mudança na infraestrutura, mas trará muitos benefícios. Isso reduzirá os custos e aumentará a velocidade e segurança dos negócios.
Exemplo de tokenização
Em busca de mais transparência, agilidade e segurança, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pretende lançar o seu próprio token na plataforma do Ethereum.
Inicialmente chamado de “BNDES Coin” em alusão ao frenesi das moedas digitais, a iniciativa foi rebatizada internamente de “BNDES Token”, pois, na prática, compreende a “tokenização” do real brasileiro. Com isso, o banco estatal pretende conceder financiamento em tokens que serão lastreados na moeda nacional. A ideia é que o financiamento de uma obra seja operacionalizado por meio de tokens. Assim, todo o caminho percorrido pelo dinheiro será totalmente transparente.
Qualquer brasileiro poderá visualizar quem são as empresas envolvidas na operação e as transações realizadas. As informações críticas não estarão armazenadas em um banco de dados dentro do BNDES. Elas estarão públicas no blockchain.
Na prática, o tomador do empréstimo disponibilizará ao BNDES um endereço público na blockchain. O banco estatal, então, enviará os tokens que depois serão utilizados pelo governo estadual para o pagamento dos fornecedores que, por sua vez, poderão solicitar o resgate em reais junto ao BNDES.