O Bitcoin (BTC) marcou um raro – mas não inédito – setembro positivo. Nos últimos dez anos, esta foi a terceira vez em que a criptomoeda de referência apresentou ganhos neste mês. Este comportamento é conflitante com os temores associados à flexibilização do gasto público nos Estados Unidos e uma constante valorização do dólar norte-americano. O sinal de que o ativo digital está amadurecendo é cada vez mais nítido, e seus próximos fundamentos dão corpo ao movimento de preços, que não só retomou os US$ 28 mil, mas pode também manter sua alta no curto e médio prazos, seguindo a perspectiva técnica demonstrada em outros Satoshi Calls.
Salvos pela caneta!
Um velho conhecido bateu à porta dos Estados Unidos nas últimas semanas e só na noite deste sábado que uma resolução foi encontrada. Para evitar a paralisação de importantes serviços federais, o governo precisava remanejar seus gastos. A discussão entre deputados e senadores foi grande e até parlamentares da base do governo se opuseram ao modelo apresentado para salvar o mês.
Porém, mais uma vez, o “shutdown” foi evitado com a assinatura do projeto de lei por Joe Biden no lento – mas pontualmente veloz – capitólio. Quem “se deu mal” nessa foi a Ucrânia, que viu seu financiamento à guerra contra a Rússia ser retirado do documento. Entretanto, congressistas disseram que este assunto será tratado separadamente.
Apesar da vitória do governo, há pouco a se comemorar. Afinal, os US$ 16 bilhões liberados só dão fôlego ao país até 17 de novembro. Até lá, novas negociações devem ocorrer para que os Estados Unidos consigam flexibilizar suas contas.
Embora críticas possam ser feitas, a necessidade de projetos de leis momentâneos para manter o governo operando vem de tempos atrás. Desde a pandemia do novo coronavírus, por exemplo, parlamentares da base de Donald Trump também lutavam para conseguir verba e evitar um shutdown. Então, podemos esperar que a história e os receios se repitam mais vezes.
Um respiro econômico
Polêmicas e flexibilização de gastos à parte, os Estados Unidos viram seu Produto Interno Bruto (PIB Q2) avançar 2,1% no segundo trimestre deste ano, ligeiramente abaixo do esperado pelos analistas. Ao mesmo tempo, o índice de preços PCE fortalece – mesmo que só um pouquinho – a narrativa positiva para um “pouso suave”.
Setembro | Projeção | Agosto | |
PIB Q2 | 2,1% | 2,2% | 2,0% |
PCE | 3,7% | 3,7% | 4,9% |
Sinais menos pessimistas
A Zona do Euro é uma das regiões mais voláteis economicamente falando atualmente. Os índices de Confianças do Consumidor e Serviços recuaram novamente, mostrando que há pouco sinal de uma recuperação por lá. A indústria, porém, é uma luz no fim do túnel. Apesar de ainda estar em campo negativo, o setor vem melhorando mês a mês sua confiança no bloco. O alívio mesmo vem nas prévias da Inflação ao Consumidor (CPI), que apontam para uma desaceleração em setembro.
Setembro | Projeção | Agosto | |
CPI | 4,3% | 4,5% | 5,2% |
Núcleo CPI | 4,5% | 4,8% | 5,3% |
Um possível otimismo, entretanto, passa bem longe da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde. A chefe monetária disse que as pressões domésticas sobre os preços continuam fortes, sinalizando que a inflação ainda é uma preocupação na região. Em outras palavras: nada de corte de juros!
Desabando paredes
Na China, outra velha conhecida deu as caras na última semana. A crise da Evergrande, uma das maiores incorporadoras imobiliárias do país, elevou as preocupações sobre a recuperação econômica chinesa.
Por se concentrar em um setor base da economia local, a situação da Evergrande tem potencial para impactar não só o mercado imobiliário, mas também outros segmentos, sejam eles nacionais ou internacionais. O efeito cascata sobre o calote da incorporadora e sua quebra são discutidos há mais de ano.
Não se animem com os juros
O recente corte de 0,5% na SELIC animou os investidores brasileiros, que viram a possibilidade de uma aceleração na redução dos juros. Entretanto, não é isso que a ata do Copom mostra. Na última reunião, o documento aponta que flexibilizações acima dos 50 pontos-base estão distantes, ainda mais considerando possíveis forças inflacionárias.
Essa perspectiva é compartilhada com os dados, em que o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação oficial, subiu 0,35% em setembro. Já a inflação de porta de fábrica (PPI) também subiu 0,92% em agosto, após seis quedas consecutivas. No entanto, há uma notícia positiva no front do emprego: a taxa de desemprego caiu para 7,8% no trimestre encerrado em agosto.
Bitcoin contrariando a história
Setembro se encerrou em meio a um raro evento. O Bitcoin terminou o mês com alta de 3,99%. Para se ter uma ideia, nos últimos dez anos, apenas em três ocasiões – contando esta – que a criptomoeda de referência fechou o período com ganhos. Já na abertura de outubro, a tendência de alta permanece, com o mercado empurrando o ativo para próximo dos US$ 28,5 mil. Chamado também de uptober, este mês costuma ser positivo à moeda digital, segundo dados históricos. Assim, as oscilações macroeconômicas mais uma vez foram praticamente desconsideradas pelos investidores, com seus próprios fundamentos sendo responsáveis pela alta.
Beijinho no ombro e tchau!
Os quase inéditos ganhos em setembro contrastam com os avanços constantes do índice dólar (DXY). Apesar de uma alta de 2,45% da moeda norte-americana no último mês, o Bitcoin também seguiu no positivo.
Este movimento, de certa forma, pausa momentaneamente a famosa correlação inversa de desempenho entre esses dois ativos. Por conta desse paralelo histórico, é importante manter o dólar no radar para observar quanto tempo essa descorrelação vai durar.
Adiamentos e acúmulos
A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) adiou mais uma vez a decisão sobre os ETFs de Bitcoin propostos por BlackRock, Bitwise, Valkyrie, entre outros gestores. Não dá para dizer que este movimento é uma surpresa, afinal, os reguladores ainda não estão nem um pouco confortáveis em dar este passo em prol de uma demanda institucional por um ativo descentralizado.
Mesmo assim, a decisão negativa passou longe de afetar um dos maiores compradores corporativos de BTC. A MicroStrategy, liderada por Michael Saylor, comprou mais 5.445 Bitcoins, totalizando US$ 147,3 milhões.
De olho na rede
A falta de uma movimentação mais brusca para o preço do Bitcoin acompanha uma queda considerável no volume de troca da criptomoeda, que atingiu mínimas de 5 anos. Com isso, podemos entender que os detentores estão no modo HODL de suas moedas.
O baixo número de trocas é observado também pelo cada vez menor volume de BTC disponível nas exchanges. Esse comportamento costuma indicar que as negociações estão restritas a contato direto, o que tende a reduzir as compras e vendas, assim como sugere uma falta de intenção de comercialização. Além disso, há sinais bullish, à medida que as baleias continuam a acumular, segundo a Chainlink.
Saindo da xícara
A análise técnica do último Satoshi Call caminha para uma confirmação nesta semana. Com os ganhos recentes, o Bitcoin está rompendo o canal da alça da xícara do padrão cup and handle. Caso o desenho se consolide mesmo, podemos observar uma alta de preços ainda mais consistente no curto e médio prazos, quebrando resistências importantes, como a região dos US$ 30 mil.
Já as bandas de Bollinger voltaram a um período lateral, acompanhando bem o momento de baixa volatilidade da criptomoeda. A mediana, em US$ 28 mil, é o nível de equilíbrio no momento. Em contrapartida, os US$ 24,3 mil são o suporte mais próximo, marcado pela linha inferior do indicador, assim como pelo meio do canal da alça e também pela última grande resistência rompida.
Nos indicadores adjacentes, o MACD mantém sua aproximação das linhas para um cruzamento para cima, mostrando a força dos touros neste momento. Enquanto isso, o Índice de Força Relativa (RSI) se posiciona acima dos 54 pontos, com o setor em equilíbrio, mas com leve vantagem dos compradores.
Conclusão
O amadurecimento do Bitcoin tem sido nítido nos últimos meses. As constantes oscilações marcadas pelos eventos macroeconômicos estão cada vez menores, tornando a criptomoeda um ativo mais autônomo e com suas próprias perspectivas. Claro que este crescimento ainda é algo volátil e movimentos externos nunca devem ser desconsiderados, afinal, eles afetam toda uma economia global extensa.
Mas como discutido em outros Satoshi Calls, o halving cada vez mais próximo tem colocado o Bitcoin em uma posição aparentemente favorável à acumulação. A baixa volatilidade e reservas da criptomoeda nas exchanges menores são comportamentos bem característicos destes períodos.
Há ainda uma série de etapas a serem cumpridas e muitas resistências quebradas para que vejamos o potencial histórico do halving. Até lá, os padrões gráficos podem ajudar na tomada de decisão e potencializar as negociações e acúmulos da criptomoeda no curto e médio prazos.