João Canhada
Do desejo de empreender, de uma empresa quebrada e de uma dívida, surgiu o que é hoje a maior bolsa de bitcoins da América Latina!
O caminho foi um tanto quanto diferente para que eu chegasse até aqui, até a Foxbit que vocês conhecem hoje. E essa é a história que eu gostaria de contar.
Meu nome é João Vinícius Berti Canhada. Nasci em Junqueirópolis-SP, mas vivi a maior parte da vida em Mogi Guaçu, também interior de São Paulo. Meu pai é caminhoneiro, minha mãe, dona de casa, mas trabalhou como diarista por muitos anos pra poder pagar meus cursos de informática. Hoje, eu sei que foi isso que mudou minha vida, o que fez com que o computador virasse a minha paixão.
Iniciei minha vida profissional aos 14 anos, como menor aprendiz. Fiz SENAI e tive a chance de trabalhar em empresas como DELPHI, em seguida, através do CAMP , consegui entrar na Multfer. Já aos 19, não me faltava vontade de trabalhar. Uma virada de chave aconteceu quando consegui uma palestra com o astronauta Marcos Pontes, quem conheci na Campus Party de 2008. Por isso, recebi uma homenagem da prefeitura de Mogi Guaçu, e da empresa em que trabalhei.
A oportunidade de empreender
Em 2011, meu pai me ofereceu a oportunidade de empreender, trabalhar com ele, e formalizar a transportadora que ele já tocava. Eu não poderia descartar aquela oportunidade! Não pretendia chegar aos meus 30 anos arrependido de não ter tentado. Pedi as contas de meu emprego como vendedor e fui tentar a sorte como PJ pela primeira vez. Afinal, o que poderia dar errado?
O primeiro ano foi incrível, mas, ao final de 2012, ficamos em uma situação extremamente delicada, com um déficit de aproximadamente 200 mil reais. Além do prejuízo, tínhamos dezenas de funcionários, em boa parte motoristas terceirizados, pais de família, pra quem devíamos dinheiro. Tivemos que tomar uma decisão arriscada e difícil.
Ainda tínhamos crédito nos bancos, e decidimos pegar tudo o que conseguíssemos neles: cheque especial, empréstimos etc. Quitamos todas as contas espalhadas e concentramos a maior parte da dívida nos bancos. O que era esperado, aconteceu rápido: os 200 mil reais viraram 500 mil, sempre com juros abusivos, correção e todas aquelas taxas que só os bancos conseguem colocar no meio disso tudo.
Nesse período, eu estava no primeiro ano de faculdade de administração, na UniFeob, e não queria parar de estudar. Só que eu literalmente atrasava seis meses, fazia um acordo com a faculdade, e atrasava o acordo também. Digamos que conheci SPC extremamente a fundo…
A SOLUÇÃO BITCOIN
Confesso que, nessa situação, pensei algumas vezes que minha vida tinha acabado ali. Mal sabia que, na verdade, ela tinha apenas começado! No desespero desse cenário, procurei alternativas para ganhar dinheiro com internet e computador, algo que sempre fui apaixonado. Digamos que, quase literalmente, coloquei “como ganhar dinheiro na internet” no Google. Uma das respostas? Bitcoin!
Eu já tinha ouvido falar antes sobre o tema em alguma Campus Party, mas não tinha dado muita atenção. Fui procurar e conheci uma corretora que negociava bitcoin, fiz um depósito de 50 reais, comprei, e dois dias depois tinha 55 no saldo. Estava diante de algo interessante! Busquei entender como consegui esse valor com tão pouco capital. Foi quando descobri uma comunidade chamada Bitcoin Brasil no Facebook, e outra em português no Bitcointalk.
Na época, final de 2013, havia pouco mais de 3 mil membros na comunidade do Facebook, e tudo era um aprendizado contínuo, que exigia que todos fôssemos autodidatas, já que não havia fontes seguras de informação. As pessoas negociavam bitcoin por chat, depositavam na conta do vendedor, e recebiam os bitcoins. No entanto, havia muitos golpes com pessoas que pagavam, mas não recebiam os seus devidos bitcoins. Foi o problema que passei a explorar.
Eu mesmo comecei a comprar o bitcoin em algumas corretoras, anunciava na comunidade o meu preço já com uma taxa de serviço embutida, e negociava absolutamente tudo pelo Facebook. Eu era uma fonte confiável, pois usava meu perfil oficial, como foto da minha mãe, namorada, do meu cachorro. As pessoas se sentiam seguras pra negociar comigo, e ali começou minha vida de vendedor p2p de bitcoins.
Recusando vendas (!?)
Minhas vendas aumentaram muito, e comecei a ter que recusar algumas por falta de capital de giro. Procurei alternativas, já que obviamente os bancos não iriam me emprestar, mas, por uma sorte do destino, descobri uma plataforma incrível chamada BTCJAM, de um brasileiro chamado Celso Pitta, um peer-to-peer lending global usando criptomoedas.
Eu anunciava meu pedido de empréstimo, e qualquer pessoa no planeta que tivesse bitcoin poderia me emprestar, vinculado a uma moeda de paridade escolhida, que no caso era o dólar. Eu então adicionava uma taxa de juros sugerida, que na média era 4% ao mês, e, se as pessoas concordassem, elas poderiam investir em meu pedido.
Não posso dizer que não me assustei um pouco com a forma como tudo cresceu rápido! Eu precisava ter uma empresa e a primeira ideia foi de uma companhia chamada bítsaque, mas que nunca saiu do papel. Depois disso, fui abordado pelo Rodrigo, da Blinktrade, e pelo Guto Schiavon. Ambos me chamaram para participar de um novo projeto de exchange, que, de primeira, eu neguei, por considerar um mercado saturado. Mas acabei convencido pelo Guto. Entrei em parceira com ele, e iniciamos o projeto do que se tornaria a Foxbit.
NASCE A FOXBIT
Como executar nossos planos, ainda era uma dúvida. O que sabíamos? Que o cliente quer velocidade, respeito e bom atendimento, um atendimento diferente. Da raposa, que representa agilidade, velocidade, inteligência, veio o nome. Mas também de um toque pessoal, de uma música de 2013 que eu e minha mãe adorávamos, da dupla Ylvis: What does the Fox Say?
Para tirar nossa ideia do papel, foi necessário buscar investimento. Das mais de 70 pessoas que procurei, duas aceitaram embarcar no projeto a longo prazo, como investidores: Felipe Trovão e Marcos Henrique. Sem eles, talvez a Foxbit não existisse. Outros toparam entrar no projeto para serem market makers, dando liquidez no dia zero da plataforma. Mais uma vez, toda essa negociação rolou online. Aliás, essa é uma das peculiaridades da nossa história: eu sequer conhecia meus sócios pessoalmente.
O contrato social rodou por correio, sem nenhum aperto de mão. Em cidades distantes do interior paulista, toda a organização e estrutura da empresa foram feitas 100% por Facebook, Skype e Hangout. O Guto em Pompeia, o Felipe em Araraquara, o Marcos Henrique em São Bernardo, e eu em Mogi Guaçu. Fundamos a Foxbit nos nossos quartos, em diferentes cidades! Eu só conheci o Guto pessoalmente no dia 9 de dezembro de 2014, um dia antes de tudo ir pro ar.
Equipe crescendo
Um ano após o pontapé inicial, João Paulo Oliveira entrou na equipe, com seu profundo entendimento de tecnologia. Logo após ele, como investidor anjo, entrou Bernardo Faria, o nosso “tio da Sukita”, apelido carinhosamente dado a ele por ter puxado a média de idade da empresa pra cima com a sua experiência. Ele não só investiu, como também veio para o dia a dia, e ajudou a profissionalizar a Foxbit, que se mudou para uma sede em São Paulo. Dos quartos em cidades diferentes, passamos a dividir uma “república” dos sócios, todos morando juntos por quase um ano. E, em junho de 2016, a Foxbit contratou o seu primeiro funcionário, Raphael Soffieti! Menos de dois meses depois, já éramos nove pessoas no dia a dia.
Passamos por fases difíceis, e sempre voltamos mais fortes. Eu não sei como será o dia de amanhã, mas tenho certeza de que o mundo é uma roda gigante, sempre em movimento. Já paguei todas as minhas contas, ganhei meu melhor presente da vida, uma linda filhinha chamada Julia, me casei com aquela que permaneceu ao meu lado durante todo esse processo. Ela realmente comprou na alta e segurou na baixa! E acompanhou a grande volta que a vida nos deu na nossa breve história. Te amo, Ricelli!
E as dívidas do João Canhada?
Lembram-se das minhas dívidas? Após sanar a maior delas, com o Banco Santander, tive a oportunidade de palestrar ao lado de seu presidente, Sérgio Rial, no Fórum Liberdade e Democracia, em 2017 (vídeo abaixo).
Os tropeços me obrigaram a me reinventar e chegar até aqui. Era mais fácil ter virado caminhoneiro, como meu pai, do que CEO de uma grande fintech. Acredito na potência desse ecossistema, e por isso participo dele. Não fundamos a Foxbit apenas pelo dinheiro, também buscamos incentivar a educação das pessoas, como uma empresa de comunidade. Porque acreditamos que existem muitos Canhadas e Gutos por aí, com uma boa ideia que pode dar certo!
Qualquer dia, eu encontrarei a pessoa que me deu o calote lá no início, e vou agradecer!
Hoje sou CEO da maior bolsa de bitcoins da América Latina, ao lado dos melhores talentos que já tive a oportunidade de trabalhar. A todos que me ajudaram nessa curta trajetória, meu simples e sincero OBRIGADO!