Satoshi Call
Em meio ao insistente turbulento cenário macroeconômico, o Bitcoin (BTC), enfim, quebrou seu estreito canal de negociação e apontou para uma uma correção considerável na última semana. Não só a perspectiva da sequência do aperto monetário nos Estados Unidos permanece, como também a economia chinesa continua mostrando fragilidades em sua recuperação econômica, pressionando todos os mercados. Ao mesmo tempo, a moeda digital ainda precisou lidar com seus próprios fundamentos e encontrou, na especulação envolvendo Elon Musk, a provável faísca que faltava para reavivar sua volatilidade. Com todo esse caos em torno do BTC, nem tudo parece ser negativo. Por isso, é hora de aprofundar cada um desses elementos para que a estratégia de operações seja a mais assertiva nos próximos dias.
Será que aperta mais?
O mercado aguardou ansiosamente pela ata da última reunião do Federal Reserve, que terminou com o aumento de 0,25% nos juros, após uma pausa do aperto monetário no encontro anterior. Segundo o documento, os formuladores de política monetária sugeriram potenciais taxas de juros mais altas para conter a inflação de longo prazo.
A perspectiva, entretanto, mostrou sinais muito conflitantes dentro do mercado. Se por um lado as ações perderam tração na semana passada, pelo outro 90% dos investidores continuam apostando em uma nova paralisação do aumento de juros em 20 de setembro. Ou seja, ninguém sabe muito bem o que quer muito por aqui – talvez nem o que esperar!
Possíveis pistas, porém, podem ser vistas nos dados de pedidos de seguro-desemprego, que apontaram um leve recuo, enquanto as Vendas no Varejo vieram acima do esperado. Este último, inclusive, pode ser um catalisador interessante para incentivar o Federal Reserve a seguir com seu aperto monetário, já que o consumo é um potencial estímulo à inflação.
Julho | Projeção | Junho | |
Vendas no Varejo | 3,17% | 1,50% | 1,59% |
Produção Industrial | -0,23% | -0,10% | -0,78% |
Seguro-desemprego | 239 mil | 240 mil | 250 mil |
Nesse meio do caminho, chamou a atenção os títulos do tesouro norte-americano de 10 anos. Desde a ata citada anteriormente, os rendimentos dos papéis do governo subiram para seu nível mais alto desde outubro de 2022, trilhando a possibilidade de novos aumentos de juros no país e levando o investidor a buscar ativos de menor risco.
É um enrosco só
A China seguiu com seus balanços na última semana e, mais uma vez, mostrou que sua economia está em expansão… Mas daquele jeito: frustrando a expectativa dos analistas. Os dados de Produção Industrial e Vendas no Varejo, por exemplo, vieram abaixo do esperado, mantendo a perspectiva de que o país ainda não encontrou o caminho para uma plena recuperação econômica. A pressão permanece com a taxa de desemprego que, embora em linha com as estimativas, ainda é considerada alta para o país.
Julho | Projeção | Junho | |
Vendas no Varejo | 2,5% | 4,5% | 3,1% |
Produção Industrial | 3,7% | 4,4% | 4,4% |
Taxa de Desemprego | 5,3% | 5,3% | 5,2% |
O primeiro-ministro, Li Qiang, chegou a mencionar que o governo trabalhará para atingir os objetivos de crescimento do ano, logo após os dados “decepcionantes”. Para isso, as autoridades anunciaram o corte da taxa de empréstimos de um ano, em uma tentativa de fortalecer a economia.
Olha quem voltou!
A gigante do setor imobiliário chinês, Evergrande, voltou às capas do noticiário e, novamente, de forma pouco positiva. No passado, a empresa já havia indicado a possibilidade de um default – calote de sua dívida – que atingiria diversos setores da economia local. Desta vez, a companhia entrou com um pedido de proteção contra falência nos Estados Unidos, com receios de que o baixo desempenho da empresa possa acarretar novos prejuízos aos credores.
Quem dera fosse por aqui
Apesar de ainda apontando uma expansão econômica, os dados chineses são vistos como decepcionantes. Porém, em comparação com a Zona do Euro, talvez o país asiático não esteja assim tão mal. Na última semana, o bloco divulgou um pequeno crescimento do Produto Interno Bruto do segundo trimestre (PIB Q2), mas ainda um recuo em relação ao período anterior. Já a Produção Industrial melhorou na comparação com maio e veio bem acima das projeções, mas segue mirando em território negativo.
Junho | Projeção | Maio | |
Produção Industrial | -1,2% | -4,2% | -2,5% |
PIB (Q2) | 0,6% | 0,6% | 1,1% |
A Inflação ao Consumidor (CPI) da Zona do Euro pouco se movimentou também. A estabilidade foi o mote deste mês, apesar de uma pequena retração no índice geral.
Julho | Projeção | Junho | |
CPI | 5,3% | 5,3% | 5,5% |
Núcleo CPI | 5,5% | 5,5% | 5,5% |
De grão em grão
Na última semana, o Brasil divulgou, com atraso, seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) – considerado uma prévia do PIB. O indicador seguiu com seu avanço, vindo, inclusive, acima do esperado pelos analistas. Com isso, as projeções positivas para a economia brasileira até o final do ano permanecem no radar.
Junho | Projeção | Maio | |
IBC-Br | 0,63% | 0,60% | -2,05% |
O que vem por aí?
Após o agito, a agenda econômica desta semana está bem amena. No Brasil, será divulgado o IPCA-15, considerado uma prévia da inflação nacional. Nos Estados Unidos, membros do comitê votante de política monetária do Federal Reserve discursam. Ao mesmo tempo, ocorre o simpósio de Jackson Hole, que reúne economistas, políticos e empresários para discutir juros, inflação e tendência de crescimento ou retração do país. Saem essa semana também as prévias dos Índices Gerentes de Compras (PMI) Industrial, de Serviços e Composto da Zona do Euro e EUA.
Volatilidade “resolvida”
O Bitcoin parecia que iria, mais uma vez, manter seu estreito canal de negociação. Mesmo com pequenos recuos aos US$ 28 mil, a volatilidade histórica da criptomoeda de referência chegou a se aproximar de mínimos recordes. Na sexta-feira, porém, a quebra dessa morosidade – citada em Satoshi Calls anteriores – veio e para baixo.
Em poucas horas, na última quinta-feira, a moeda digital foi para os US$ 25,6 mil, buscando uma mínima de dois meses. Na abertura desta semana, o BTC parece estar resistindo ao momento de baixa, se apoiando nos níveis mais baixos dos US$ 26 mil.
A tal faísca que faltava
Determinar uma única causa para a queda de preços do Bitcoin seria bastante imprudente e impreciso. A realidade é que foi preciso uma conjuntura específica de fundamentos acontecendo quase que ao mesmo tempo para que, enfim, o mercado direcionasse uma tendência mais clara.
Desta forma, a possibilidade de aumento de juros nos Estados Unidos é, sim, um catalisador para a pressão ao mercado, embora não tenha sido capaz o suficiente para quebrar a lateralidade em semanas anteriores. Mas aí entram outros fatores que colaboraram para o estiramento da corda.
Como comentado em outros relatórios, o mercado asiático se apresentava como um importante acumulador de Bitcoin recentemente. Por isso, a notícia de que uma das maiores empresas da China, a Evergrande, estava entrando com pedido de proteção contra falência nos Estados Unidos aumentou o sentimento negativo do mercado para ações de risco, inclusive as criptomoedas.
Junto a isso, outros dois elementos especulativos foram os gatilhos finais para a queda de preços. O primeiro deles aponta para um confuso relatório da Tesla, em que não fica claro se a fabricante de automóveis elétricos se desfez de forma parcial ou total de seus BTCs. Apesar de não ser uma companhia específica do setor cripto, Elon Musk tem grande influência neste – e não é de hoje – e em outros mercados, colaborando sempre com uma pitada de volatilidade.
Por fim, a queda mais acentuada da criptomoeda também é intensificada pela liquidação expressiva de mais de US$ 1 bilhão em contratos futuros, em apenas 24 horas. Mais de 80% desse total correspondeu a contratos de compra (longs), contra menos de 20% para posições vendidas (shorts).
Se todos esses eventos juntos parecem ser um caos total, na verdade, podem indicar uma maturidade do Bitcoin. Ao contrário do que acontecia anos atrás, poucos fundamentos – fossem eles internos ou externos ao setor – já eram suficientes para levar a uma queda ou alta de preços da criptomoeda.
Agora, foi preciso muito mais força e situações concomitantes para que o ativo sofresse algum impacto significativo. Desta forma, é possível que o BTC esteja em um momento mais consolidado, baseando seu desempenho em uma narrativa cada vez mais própria.
Vem para o gráfico
Na perspectiva técnica semanal, uma divergência entre o Índice de Força Relativa (RSI) – em tendência de baixa – e o movimento de preços – tendência de alta – se consolidou com a queda de preços da última semana, como apontado pelas linhas amarelas no gráfico abaixo. Novos recuos ainda são possíveis, pois o movimento corretivo também pode ser uma repercussão do topo duplo marcado pelos dois círculos brancos.
Fonte: TradingView, em 21/08/2023, às 8h56min.
As Bandas de Bollinger, agora, apontam para uma ampliação de suas extremidades, com a parte inferior podendo servir de suporte para o preço, já que a mediana foi rompida rapidamente para baixo. Há uma linha mais abaixo ainda para suportar em US$ 24,3 mil, última grande zona de resistência do ativo. Caso o mercado segure o BTC acima deste nível, um rebote pra cima é bastante possível nos próximos dias. Senão, os US$ 22 mil e US$ 16 mil voltam ao radar dos investidores.
Nos indicadores subjacentes, o MACD cruzou para baixo suas médias, acompanhando o mercado mais pressionado pelos vendedores. Enquanto isso, o RSI desceu para 45 pontos, apontando para um mercado controlado pelos bears.
Conclusão
Apesar de uma queda ser considerada ruim para muitos investidores, a maneira como a quebra de volatilidade aconteceu sugere sinais de que o Bitcoin está ficando cada vez mais fortalecido contra “pequenos” e poucos fundamentos. Há uma possível maior estabilidade do ativo, que exige cenários muito mais bruscos do que antigamente para uma descida ou subida de preços.
A perspectiva técnica indica uma tendência de baixa muito mais clara, com quedas ainda mais intensas no curto prazo no radar. Entretanto, um importante nível de suporte pode ser o trampolim que alguns bulls gostariam de ver para o rompimento dos US$ 30 mil, considerando que o mercado segue acumulando a criptomoeda, de olho no halving do ano que vem.
Com isso, traders de curto prazo talvez precisem ficar atentos a estratégias que possam proteger suas posições, caso a descida de preços continue. Para os investidores de períodos maiores e HODLErs, a queda pode servir para acumular ainda mais a criptomoeda com um certo “desconto”.