Relatório do mercado de criptoativos: abril/2018

maio 2, 2018 | Notícias

Depois de um primeiro trimestre bastante negativo para a maioria dos criptoativos, o mercado parece ter iniciado uma recuperação no mês de abril ao registrar no período um aumento de 53,7% na capitalização de mercado agregada, segundo dados do site coinmarket.com.
O valor de mercado total do ecossistema de ativos digitais saltou de US$265,6 bilhões em 31 de março de 2018 para US$408,3 bilhões no último dia de abril. A alta de US$142,7 bilhões foi puxada principalmente pela performance dos ativos que figuraram entre os TOP 10 no final do mês, com uma participação de 92,22% no incremento.
É também interessante notar que, no final de março, os 10 principais ativos respondiam por 79,88% de todo valor de mercado. No final de abril, essa participação subiu para 84,19%.
Em abril, o peso do Bitcoin na expansão do valor de mercado total foi praticamente duas vezes menor que o desempenho conjunto dos outros ativos. Enquanto o valor de mercado do Bitcoin subiu 37,22%, os ativos digitais restantes (cerca de 1600) registraram juntos 66,7% de aumento no mesmo período. Com isso, a participação de mercado do Bitcoin que, no final de março, era de quase 45% fechou o mês em 37,5%, registrando uma perda de 7,5% da fatia total do mercado para os outros criptoativos.

Um dos principais destaques do mês foi a plataforma de contratos inteligentes EOS, que registrou alta de 283,77% em seu valor de mercado. Este protocolo, que pode ser considerado um concorrente direto do Ethereum, ainda está em fase de ICO e a previsão é que sua blockchain comece a operar em junho deste ano.
A promessa dos desenvolvedores da EOS é a de oferecer uma blockchain com maior capacidade de processamento de transações e funcionalidades extras. Contudo, para conseguir atingir esses objetivos, a plataforma precisará sacrificar sua capacidade de ser resistente à censura e também a sua arquitetura descentralizada.

Variação dos preços

O crescimento do valor de mercado dos ativos reflete fundamentalmente os aumentos verificados nos preços dos ativos durante o mês de abril.
Os preços, contudo, tendem a não subir no mesmo nível que o valor de mercado, devido a diferentes estratégias de negociação e liquidação de investidores e/ou mineradores (no caso dos ativos que são “mineráveis”). O Bitcoin, por exemplo, obteve 33,5% de valorização em sua cotação em dólar, de acordo com levantamento feito pela Foxbit Invest, um pouco abaixo do incremento em relação ao seu valor de mercado.

Volume financeiro

Apesar de o Bitcoin ter perdido participação de mercado em abril no que tange à métrica de valor de mercado, é essencial analisar a performance do Bitcoin e dos principais ativos em relação ao volume financeiro total negociado no mês. Isso porque, a métrica de valor de mercado pode ser facilmente manipulada por protocolos que já realizaram a emissão total de seus tokens.
Imagine que uma nova plataforma com estoque total já emitido de 1 bilhão de tokens comece a negociar o seu ativo. Se este ativo for negociado por US$1,00, o valor de mercado total da plataforma automaticamente passará a ser de US$ 1 bilhão, pois a métrica de valor de mercado compreende a multiplicação do preço do ativo negociado pelo total de ativos existente no mercado.
Ao analisar o giro financeiro no mês de abril, observa-se um total negociado de US$493 bilhões, sendo que destes o Bitcoin é responsável por 38,6% (US$190,4 bilhões). Na sequência, compondo o restante do TOP 10, os ativos Ethereum, EOS, Ripple, Bitcoin Cash, Tron, Litecoin, Verge, Cardano e Qtum representaram juntos 36,9% do volume negociado. O restante dos ativos digitais contabilizou 24,4% do volume. Esta análise não considera o volume financeiro gerado pela negociação do token Tether (USDT), que em abril foi da ordem de US$80 bilhões. Isso porque, ele funciona como uma representação do dólar americano e não possui um racional de investimento, sua função é basicamente mover valores entre bolsas de criptoativos.

ICOs

Notou-se ainda em abril uma tendência de crescimento de novos protocolos e tokens relativos a aplicações descentralizadas que estão em processo de desenvolvimento. Para se ter ideia da pujança deste nicho, nos quatro primeiros meses de 2018, quase 230 ofertas iniciais de criptomoedas (ICO, na sigla em inglês) foram responsáveis por levantar mais de US$6,5 bilhões em investimentos, de acordo com o site coinschedule.com.
O montante é mais de 69% superior ao valor total captado durante todo o ano de 2017. Em abril, foram realizadas 68 ICOs, maior número de ofertas já registrado em um mês específico. O total captado em abril, da ordem de US$700 milhões, está bastante abaixo dos valores obtidos no primeiro trimestre do ano em função de ICOs muito relevantes, como o do Telegram que levantou sozinho US$1,7 bilhão dividido em duas rodadas de captação.

Futuros & Institucional

É notável o aumento da participação de investidores institucionais e de fundos que negociam ativos em alta frequência (high frequency trading) no mercado de criptoativos. Durante o mês de abril, alguns movimentos especulativos incomuns puderam ser observados. Incrementos muito repentinos no preço do Bitcoin, da ordem de US$100 a US$300, foram registrados em diversas bolsas de negociação em intervalos de tempo muito pequenos, o que dá sinais do aumento da eficiência dos negociadores.
Nos dois mercados de contratos futuros referenciados em Bitcoin, representados pelas bolsas norte-americanas CME e CBOE, foram registrados importantes aumentos no volume de negociação dos contratos. No dia 25 de abril, por exemplo, na semana de vencimento dos contratos futuros na CME, foram registrados 11 mil contratos, um recorde de volume, que totalizavam 55 mil Bitcoins (~US$500 milhões).

O discurso dos bancos centrais

Dois eventos em abril servem como mostras de uma suavização no discurso dos bancos centrais em relação ao Bitcoin e criptoativos em geral.
O primeiro deles diz respeito a um artigo publicado no blog da unidade de St. Louis do Banco Central dos Estados Unidos (FED, na sigla em inglês). Intitulado “Três formas como o Bitcoin é parecido com papel-moeda”. De acordo com o texto, a primeira delas é que tanto o Bitcoin como o dólar americano não possuem valor intrínseco. Enquanto o primeiro funciona com base na confiança sobre seu código de programação, o segundo funciona com base na confiança sobre o governo que emite aquele dinheiro.
Além disso, o banco correlaciona o limite total de emissão de Bitcoin, estipulado por Satoshi Nakamoto em 21 milhões, com a impossibilidade do FED de imprimir mais dinheiro fisicamente para dizer que ambos possuem limite de suprimento limitado. Contudo, o texto esclarece que o FED pode, se necessário, aumentar a base monetária da economia ao mexer no tamanho dos depósitos de reservas feitos pelos bancos comerciais junto ao FED, o que consequentemente reduz o poder de compra do dólar.
A terceira comparação toca no ponto da ausência da necessidade de um intermediário para se realizar uma transação com Bitcoin ou com dinheiro em papel.
No Brasil, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, que outrora havia dito que o Bitcoin era uma pirâmide financeira, afirmou em evento realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) que o Bitcoin é um ativo arriscado e que quem investe precisa saber disso.

Regulação

Levantamento realizado pelo banco norte-americano Morgan Stanley mostrou que grande parte das negociações envolvendo criptoativos ocorre em países como Malta, Belize e Seychelles. Várias bolsas de negociação têm encontrado nestes lugares um arcabouço regulatório mais amigável para operação dos negócios.

No Brasil, a Comissão Especial de Moedas Virtuais da Câmara dos Deputados voltou a se reunir e aprovou nove requerimentos para realização de audiências públicas que visam dar subsídios para a discussão de uma eventual regulamentação do mercado de compra e venda de ativos digitais no país. No momento de fechamento deste relatório, ainda não havia data estipulada para as próximas audiências.
Em 2017, esta comissão reuniu-se diversas vezes e inclusive houve a proposição por parte do relator da comissão de um texto legislativo que proibiria qualquer negociação e/ou posse de ativos digitais por brasileiros. Desde então, os deputados contrários a esta posição se articularam para a retomada das discussões e possível criação de uma regulamentação mais permissiva para o mercado brasileiro, que já conta com cerca de 2 milhões de investidores/usuários de criptoativos.

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