Satoshi Call
Nem mesmo a pressão vendedora dos últimos dias e as decisões de políticas monetárias nos Estados Unidos e Europa foram capazes de tirar o Bitcoin (BTC) de sua estreita faixa de negociação. A falta de uma tendência clara tem colocado os investidores em cautela total e especulando possíveis novas descidas, já que a criptomoeda de referência se posta nos níveis mais baixos dos US$ 29 mil. Com a abertura da semana em meio ao fechamento mensal, os fundamentos passados e futuros, assim como a presença de um certo otimismo na análise técnica, poderão dar indícios de o que esperar para o desempenho do BTC nos próximos dias.
Decisões monetárias
A última semana foi agitada entre Estados Unidos e Europa, em que as duas das maiores economias do mundo decidiram pelo aperto monetário – o que já era amplamente esperado pelo mercado.
No caso do Banco Central Europeu (BCE), o aumento dos juros foi de 0,25%, em linha com o estimado. Em coletiva, a presidente do BCE, Christine Lagarde, pontuou que a decisão foi unânime, por conta da inflação ainda persistente. Os receios com a economia permanecem, já que os dados de Indústria estão fracos. Porém, Lagarde acredita que o bloco deve apresentar uma forte recuperação econômica no futuro.
Em relação aos Estados Unidos, os juros também subiram 0,25%, como já apontado em diversas pesquisas. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou o arrefecimento da inflação, mas indicou que há um “longo caminho até a meta de 2%”. Entretanto, o mercado de trabalho ainda aquecido é motivo de preocupação e pode levar o Banco Central a elevar novamente os juros em setembro.
A economia vai naquelas…
Nos Estados Unidos, as prévias dos Índices Gerente de Compras (PMIs) apresentaram recuo, embora ainda em território de expansão. As preliminares do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre (Q2), entretanto, apontaram alta em relação ao período anterior.
Julho | Projeção | Junho | |
PMI Industrial | 49,0 | 46,4 | 46,3 |
PMI Serviços | 52,4 | 54,0 | 54,4 |
PMI Composto | 52,0 | 53,1 | 53,2 |
PIB Q2 | 2,4% | 1,8% | 2,0% |
Enquanto isso, o núcleo de preços PCE, o indicador favorito do FED para medir a inflação, desacelerou em junho.
Junho | Projeção | Maio | |
Índice PCE (anual) | 3,0% | 3,1% | 3,8% |
Núcleo PCE (anual) | 4,1% | 4,2% | 4,6% |
A confluência desses dados aumentam as expectativas de que a inflação deve ser retomada à meta em um futuro não tão distante. Porém, a economia parece estar sendo bastante impactada no processo. Com isso, a possibilidade de um pouso suave, com uma leve recessão econômica no país, parece se mostrar como o cenário mais provável no momento.
Lá como cá
Na Zona do Euro, a situação econômica é bem semelhante à observada nos Estados Unidos, com alguns setores da economia ainda confiantes, contra outros nem tanto assim.
Julho | Projeção | Junho | |
Confiança do Consumidor | -15,1 | -15,1 | -16,1 |
Confiança de Serviços | 5,7 | 5,4 | 5,9 |
Confiança Industrial | -9,4 | -7,5 | -7,3 |
Esses dados sugerem certa dor de cabeça aos formuladores de política monetária. Afinal, a confiança do consumo e de Serviços ainda em campo positivo mantêm pressão sobre a Inflação ao Consumidor (CPI), como mostram os dados preliminares anuais.
Julho | Projeção | Junho | |
Núcleo CPI | 5,5% | 5,4% | 5,4% |
CPI | 5,3% | 5,3% | 5,5% |
PIB Q2 | 0,3% | 0,2% | 0,0% |
Construindo a economia
A China segue seu plano de potencializar seu setor imobiliário. Após manter as taxas reduzidas para empréstimos de curto e médio prazos, o Ministério de Habitação do país anunciou, sem muitos detalhes, planos para facilitar a compra de imóveis. O governo ainda prometeu elevar o “emprego estável a uma meta estratégica”.
Julho | Projeção | Junho | |
PMI Industrial | 49,3 | 49,2 | 49,0 |
PMI Não-Manufatura | 51,5 | 52,9 | 53,2 |
PMI Composto | 51,1 | –– | 52,5 |
Entretanto, os principais setores da economia local apresentaram ligeira desaceleração, com exceção da Indústria, que tenta retomar o território de expansão.
Estamos bem, obrigado!
Pelo Brasil, a situação segue positiva e aparentemente mais controlada, com a Inflação ao Consumidor (IPCA-15) mantendo sua baixa, mesmo com a alta na confiança do Consumidor.
Julho | Projeção | Junho | |
IPCA-15 (anual) | 3,19% | 3,26% | 3,40% |
IGP-M | -0,72% | -0,71% | -1,93% |
Confiança do Consumidor | 94,8 | 89,9 | 92,3 |
As projeções otimistas acompanham as perspectivas dos economistas entrevistados pelo Banco Central semanalmente no Boletim Focus.
Semana agitada
Para esta semana, mais uma bateria de dados macroeconômicos está prontinha para sair do forno e pautar os mercados. Na Zona do Euro, os destaques ficam para a Inflação ao Consumidor (CPI) e ao Produtor (PPI), PMIs, taxa de desemprego e a preliminar do PIB do segundo trimestre. Já nos Estados Unidos, saem dados de emprego, com o relatório JOLTs e o Payroll, além dos Índices Gerente de Compras.
Tá na hora de acordar
Mesmo com a divulgação de inflação, dados econômicos, decisão monetária, o Bitcoin não esboçou muitas reações nos últimos dias de negociação. Essa alienação aos fundamentos, como apontado anteriormente pelo Satoshi Call, já era esperada, colocando a criptomoeda de referência em uma situação em que apenas faíscas muito fortes poderiam disparar uma tendência, seja de alta ou baixa.
A abertura da semana passada foi até que negativa para o ativo digital, que chegou a visitar momentaneamente a casa dos US$ 28,6 mil. Entretanto, os US$ 29 mil logo foram recuperados, colocando o BTC de volta ao estreito canal de negociação entre US$ 29 mil e US$ 31 mil.
O que está rolando?
Nos fundamentos, o mercado segue aguardando novidades sobre os ETFs de Bitcoin da BlackRock e Fidelity nos Estados Unidos, quase como um atleta a postos para iniciar sua corrida. Uma vantagem recente aos bulls foi que congressistas norte-americanos conseguiram passar um projeto de lei que esclareceria melhor a regulação das criptomoedas, como a distinção entre instrumentos de valores mobiliários e commodities digitais.
Já ao olhar para o mercado de derivativos, a atividade nas bolsas não é das mais altas, apesar de um aumento considerável no envio de stablecoins às exchanges, assim como seu uso para elevar os empréstimos de margem. Ou seja, os touros parecem estar buscando um posicionamento mais adequado para um possível momento de compra favorável.
Por dentro da rede
Do outro lado da balança estão os mineradores, ainda pressionando as vendas. O fluxo de BTC para as corretoras, por parte das baleias, atingiu seu mais alto nível dos últimos três anos, correspondendo a 41% de todo o depósito.
Em contrapartida, os HODLErs seguem firmes, com 55% de toda a oferta circulante da criptomoeda permanecendo inativa por pelo menos dois anos, enquanto 29% ficou armazenada por cinco anos ou mais.
Dólar se recupera
Na constante narrativa de correlação inversa entre índice dólar (DXY) e Bitcoin, a moeda norte-americana pode ter ajudado a pressionar a criptomoeda de referência nos últimos dias.
Fonte: TradingView, em 31/07/2023, às 8h39min.
Como observado no gráfico acima, o dólar se recuperou de suas mínimas e voltou a uma escalada de alta, apoiada, principalmente, pela elevação de juros pelo Federal Reserve. Mesmo assim, não é possível dizer que o Bitcoin se movimentou muito em relação a esta comparação.
Possível trampolim?
Pela análise técnica do gráfico semanal do Bitcoin, as Bandas de Bollinger se encaminham para ficarem ainda mais estreitas, mostrando a falta recente de volatilidade. Entretanto, elas podem também oferecer um cenário otimista aos investidores.
Nas duas últimas tentativas de romper para baixo a mediana do indicador, o mercado utilizou o nível para comprar e alavancar o preço da criptomoeda rapidamente, como sinalizado nos círculos brancos na imagem a seguir. Em mais um teste se formando, há a possibilidade de que a tendência de alta se repita. Caso contrário, o ativo pode experimentar uma correção mais acentuada e descer até a região dos US$ 25,6 mil.
Fonte: TradingView, em 31/07/2023, às 8h40min.
Em relação aos indicadores adjacentes, o MACD perde força, sinalizando um possível posicionamento abaixo do nível zero do histograma. Enquanto isso, o Índice de Força Relativa (RSI) mira os 58 pontos, mostrando um mercado ligeiramente mais comprado.
Conclusão
O comportamento do Bitcoin nas últimas semanas é intrigante, pois a criptomoeda se mostra bastante alheia aos próprios fundamentos, assim como os externos. Entretanto, este pode ser um sinal de que os touros estão esperando a oportunidade certa para iniciarem suas compras, em uma cautela até que comum pré-halving – como destacado pelo analista Emerson Antunes, em seu relatório “Variação de Mercado”.
Com a perspectiva generalista pouco clara, a análise técnica sugere que o Bitcoin ainda tem força para escalar mais seu preço nos próximos dias. Entretanto, há muitas condições propícias para que os vendedores voltem a tomar conta do mercado e empurrem o ativo para baixo em poucas horas, exigindo ainda mais cuidado com as operações nos próximos dias.