Riscos e volta atrás
As constantes flexibilizações de gastos e a impressão de dinheiro estão cobrando seus custos. A agência de classificação de risco Moody’s cortou sua expectativa sobre o crédito norte-americano de estável para negativa. Afinal, o país vai precisar de uma nova rodada de discussões para evitar uma nova paralisação dos serviços federais essenciais já no próximo dia 17. A corda, portanto, segue puxando, criando dúvidas sobre como o governo vai arcar com seus compromissos.
Já o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, teve seus famosos “5 minutos”. Nas últimas declarações, o mandatário do Banco Central norte-americano havia dito que a política monetária do país talvez já estivesse suficientemente apertada e por isso, era bem provável que novos aumentos de juros não fossem mais necessários.
O mercado, claro, comemorou, com a famosa garrafa de puro investimento de risco. Nem mesmo o posicionamento de outros representantes do FED contradizendo Powell foi o suficiente para encerrar a festa. Porém, com a caixa de som ainda bombando, ninguém esperava que tudo isso mudaria em apenas dois dias.
Em um debate sobre a situação econômica dos Estados Unidos, na última quinta-feira, Jerome Powell simplesmente mudou o discurso. Agora, ele citou a necessidade de cautela e que o FED não vai se privar em subir os juros se julgar necessário. Acha pouco? Ele disse ainda que talvez a política monetária do país não esteja restrita o bastante.
Mudar de opinião faz parte. Porém, não teve nenhum dado relevante que alterasse tanto o discurso. A realidade é que a volatilidade que a gente vê nas criptomoedas parece estar presente também nos representantes monetários norte-americanos.
Para o Bitcoin, o tom mais dovish – flexível – foi positivo, abrindo espaço para uma especulação de preços mais agressiva. Mas, apesar da correção com o fim da euforia e o “sentença” hawkish – restritiva –, a criptomoeda teve uma correção muito pequena de preços. Ao mesmo tempo, o ativo digital pouco se movimentou com o risco sobre a economia norte-americana. Com isso, pode-se entender que o mercado de criptomoedas está mais maduro e resiliente a essas pressões – inclusive, falaremos sobre isso mais à frente.
Falta muita força
Quem está pouco volátil, mas com uma tendência de baixa significativa é a economia da Zona do Euro. O bloco viu seu Índice Gerente de Compras (PMI) recuar para 46,5 – o menor nível dos últimos três anos. O indicador praticamente crava os pés em território de retração, ligando um bom sinal de alerta. Mas calma, pois nem tudo são problemas. Afinal, se tem algo que está mostrando sinais de controle é a inflação ao produtor (PPI), que segue em retração.
É interessante observar que, em relação às criptomoedas, a Europa não é a região que mais se destaca. Mas a falta de força da economia local – coincidentemente ou não – acompanha um crescente desenvolvimento e procura por fundos regulamentados que envolvam Bitcoin e outros ativos digitais. Assim, enquanto os Estados Unidos arrastam seu ETF, integrantes da Zona do Euro parecem mais avançados neste sentido, o que pode indicar uma preferência por outra classe de ativos no atual momento de fragilidade.
Pausa para respirar
Responsável pela produção de boa parte da matéria-prima do mundo, a China vem sentindo a pressão dos mercados externos, com mais uma contração em suas exportações. Na contramão, porém, as importações subiram no último mês. Essa redução na demanda, porém, parece estar beneficiando a inflação ao produtor (PPI), que recuou 2,6% no último mês.
Sendo a segunda maior economia do mundo e também segundo maior mercado ativo de criptomoedas, a China é um grande impulsionador ou depressor dos preços do Bitcoin. A situação econômica relativamente mais estável – principalmente comparada à Europa – tem mantido um equilíbrio entre renda fixa e participação de riscos. Mesmo com a proibição das criptomoedas por lá, as exchanges descentralizadas continuam mantendo o país como um dos maiores expoentes do setor cripto.
Recuperando terreno
Pelo Brasil, a economia mostrou que os últimos dados de baixa podem não ter passado de um respiro. O PMI de Serviços se recuperou da queda em setembro e alcançou 51,0 em outubro, totalmente em território de expansão, mesmo que modesta. Já a inflação deu avançou 0,24%, acumulando 4,82% nos últimos 12 meses. O grande responsável? As passagens aéreas. Porém, a queda nos preços da gasolina ajudaram a frear um pouco o avanço.
Para além dos indicadores, o Senado aprovou a reforma tributária. Entre as mudanças, estão a unificação de tributos, uma trava para impedir um aumento da carga e até cashback para famílias de baixa rende. Agora, o congresso vota a sequência do documento.
Uma pesquisa recente da Chainalisys mostrou que o Brasil ocupa a nona colocação no ranking global de adoção das criptomoedas. De fato, este mercado está aquecido no país, com as stablecoins apresentando um papel importante para a economia. Em relação à movimentação do Bitcoin, nosso país ainda não tem força para movimentar de forma substanciosa os preços. Mesmo assim, a economia controlada abre a chance para investimentos mais arrojados.
Primavera cripto
O mercado de criptomoedas vem apresentando um desenvolvimento interessante. O Bitcoin disparou seu preço, triscando os US$ 38 mil – valor não visto desde maio de 2022. O desempenho positivo parece sustentar bem a tendência de alta da criptomoeda de referência. O que de um lado positivo, pois mantém os investidores animados, mas levanta o tradicional alerta para correções, já que nenhum mercado sobe em linha reta.
ETFs vem ou não?
Se tem alguém que está ajudando o Bitcoin são os ETFs. A Bloomberg divulgou o calendário da Comissão de Valores Mobiliário dos Estados Unidos (SEC) com os próximos deadlines para a decisão dos 12 pedidos do fundo regulamentado em bolsa da criptomoeda. Todos eles estão marcados, no máximo, até a próxima sexta-feira (17).
O otimismo, porém, merece uma dose de racionalidade. E desculpem por isso! Mas como observamos na imagem, há ainda a possibilidade de mais dois deadlines, caso os reguladores norte-americanos assim desejarem. Então, muito bacana, temos datas, mas digamos que a galera de lá não está no maior dos piques para analisar estes documentos. Ou pelo menos não estavam.
Fato é que além do ETF de Bitcoin à vista, a BlackRock também jogou mais lenha na fogueira, com um fundo exclusivo para Ethereum (ETH). O produto ainda está com análise pendente, mas foi o suficiente para colocar o ETH acima dos US$ 2 mil mais uma vez e trazer mais capital para o mercado de criptomoedas.
Institucionais nos derivativos
Os ganhos recentes do Bitcoin também seguem uma perspectiva interessante no mercado de derivativos. Para se ter uma ideia, a bolsa de valores de Chicago (CME) se tornou o maior mercado de negociação de contratos futuros de Bitcoin do mundo, superando qualquer outra bolsa, inclusive exchanges de criptomoedas.
Alguns especialistas, inclusive, destacaram que este, sim, é o verdadeiro marco da adoção institucional dos criptoativos. A narrativa se faz valer com os dados da glassnode, que colocaram o mercado norte-americano como o maior consumidor e negociador de criptomoedas do mundo, seguido por Ásia e Europa.
Transações cautelosas
Apesar da alta de preços, uma dose de cautela não faz mal a ninguém. Até porque, nenhum mercado sobe em linha reta e, por isso, correções não só são processos naturais, como muito saudáveis para o mercado. Ao olhar para os dados on-chain, essa perspectiva de cuidado ganha mais corpo.
A reserva de Bitcoin nas exchanges segue seu viés de baixa de meses atrás, mas mostrou um pico de alta interessante. Este salto pode indicar que alguns investidores estão esperando a oportunidade para realizar seus lucros.
Fonte: CryptoQuant
Parte deste aumento nos depósitos pode estar vindo dos mineradores, que viram suas reservas caírem nos últimos dias. Este tipo de comportamento é comum para períodos pré-halving, enquanto os mineradores tentam aproveitar ao máximo a oportunidade para empilhar a criptomoeda e preparar as contas para um período em que menos BTCs estarão disponíveis.
Fonte: CryptoQuant
Entre suportes e resistências
Na análise gráfica semanal, o Bitcoin fechou sua quarta semana consecutiva de ganhos, rompendo o decote mais baixo do último padrão de ombro-cabeça-ombro (linhas azuis pontilhadas). Ao mesmo tempo, o preço rasgou a média superior da banda de Bollinger, o que pode coincidir com a necessidade de um ajuste de preços.
Caso se sustente acima dos US$ 37 mil, o próximo alvo seria a região dos US$ 42 mil e US$ 43 mil, o decote mais alto do último ombro-cabeça-ombro. Caso os bulls percam força, um teste próximo à última grande resistência (linha preta e topo do cup and handle) e da mediana da banda de Bollinger, em US$ 30 mil, poderia ser a válvula de escape.
Fonte: GoCharting, em 13/11/2023, às 8h45min.
Já nos indicadores adjacentes, o MACD sustenta suas linhas cruzadas para cima, mostrando a força dos bulls nas últimas semanas. Enquanto isso, o Índice de Força Relativa (RSI) aponta os 73 pontos, praticamente dentro do território de sobrecompra.
Conclusão
O amadurecimento do mercado de criptomoedas é evidente, e o apetite institucional está maior do que nunca. Com os volumes mais altos de negociação e a expectativa de uma entrada de capital cada vez maior, o Bitcoin vai se posicionando de maneira muito positiva para o próximo halving, estimado para abril do ano que vem.
Mais uma vez, porém, nenhum mercado sobe em linha reta. Por isso, cautela nas operações. Correções são normais e devem fazer parte do gerenciamento de risco de cada investidor. Como a análise técnica mostra, há espaço para o preço do BTC se desenvolver para ambos os lados. E é essa dualidade que pode pegar traders de surpresa.