BRC-20: O que é e como funciona o token que congestionou a blockchain do Bitcoin?

jun 1, 2023 | Bitcoin

BRC-20 é um protocolo experimental para tokens que operam na blockchain do Bitcoin (BTC). 

Esse padrão ganhou destaque recentemente por simplesmente ter congestionado as transações de BTC e elevado consideravelmente as taxas cobradas pelos mineradores.

Apesar do “transtorno” e polêmicas, os tokens BRC-20 parecem oferecer uma nova solução e ampliação à famosa blockchain do Bitcoin.

O que é BRC-20?

O BRC-20 é um padrão experimental que permite a criação de tokens fungíveis dentro da blockchain da Bitcoin, a partir do protocolo Ordinals.

BRC20

Inspirada no ERC-20, da rede do Ethereum, esta metodologia apresenta uma diferença técnica bastante fundamental: a ausência de smart contracts na cunhagem do token.

Embora ainda não exista uma funcionalidade clara, o BRC-20 é capaz de receber “inscrições” que dão atributos e características para aquele token.

Como funcionam os tokens BRC-20?

Os tokens BRC-20 são formados a partir de um código JSON (Javascript Object Notation) é adicionado em um satoshi – a unidade mínima de um Bitcoin.

Dentro deste token, então, estão funções executáveis que podem tanto realizar alguma ação dentro da blockchain ou ainda descrever suas características, como fornecimento, limite de cunhagem e identidade da moeda.

Apesar de inscrever essas atribuições “extras” aos satoshis tradicionais, a rede não consegue diferenciar o que é uma criptomoeda e o que é o um token BRC-20.

Assim, é possível utilizar essas moedas para transação entre usuários e até no pagamento de taxas da plataforma.

Como surgiu o BRC-20?

Para o surgimento do BRC-20, foi preciso, antes, a existência do protocolo Ordinals, que mudou muitas das perspectivas técnicas dentro da rede do Bitcoin.

O Ordinals foi desenvolvido por Casey Rodarmor, permitindo que NFTs (tokens não fungíveis) fossem criados dentro da mais valiosa blockchain do mundo atualmente.

Leia também: O que são NFTs?

A metodologia aponta um número sequencial para cada satoshi gerado na rede. A partir daí, é possível “inscrever” dados, como imagens, texto ou até vídeos, por meio de uma transação na cadeia de blocos.

É a partir dessas “inscrições” que o desenvolvedor anônimo, chamado de Domo, realizou testes sobre como atribuir novas funções, além das não fungíveis, aos tokens da rede do Bitcoin.

Possíveis aplicações para o BRC-20

Embora ainda não se tenha conhecimento de um uso muito claro para os tokens BRC-20, já existem algumas possibilidades sendo estudadas para essa tecnologia, como:

Transferências P2P

Tokenização

Finanças Descentralizadas

Novas soluções

Transferências P2P

Como comentado anteriormente, a rede não consegue distinguir um BRC-20 de um Bitcoin tradicional. Assim, é possível que os tokens se apropriem de algum tipo de valor e sejam usados para envio de valores entre usuários ou até mesmo pagamento dentro das taxas cobradas pelos mineradores para validar as transações da rede.

Tokenização

Por conta do JSON, é possível atribuir propriedades específicas a um token BRC-20, como fornecimento e limite de emissão. Assim, fica mais fácil a tokenização digital de ativos físicos. A ausência de smart contracts neste modelo, inclusive, poderia tornar ainda mais acessível esse processo.

Tokens BRC-20

Finanças Descentralizadas

As finanças descentralizadas (DeFi) ainda são a maior dificuldade de adequação à rigidez do Bitcoin. Por isso, a flexibilidade oferecida pelo BRC-20 poderia facilitar o processo de construção de plataformas DeFi, com trocas descentralizadas, protocolos de empréstimo e até mesmo uma paridade e ponte entre o Bitcoin e outras plataformas já existentes.

Novas soluções

Os tokens BRC-20 ainda estão engatinhando. Seu próprio desenvolvedor disse, no Twitter, que a metodologia é “inútil” e as pessoas não devem gastar dinheiro com este protocolo. Entretanto, a “brincadeira” abriu espaço para uma nova discussão técnica dentro da blockchain. Com isso, pode ser que novas soluções e desenvolvimento surjam e evoluam a rede.

Diferenças entre BRC-20 e ERC-20

Embora o BRC-20 seja inspirado no ERC-20, os tokens apresentam diferenças fundamentais entre si, sendo que a primeira e mais básica entre elas: onde operam.

No caso dos tokens BRC-20, sua operação é exclusiva na blockchain do Bitcoin, enquanto os ERC-20 são usados no Ethereum e nas redes EVM (Ethereum Virtual Machine).

Os ERC-20 funcionam a partir de contratos inteligentes, desenvolvidos a partir de uma linguagem de programação conhecida pelas EVMs, como a Solidity. Enquanto isso, os BRC-20 recebem apenas a inscrição feita por código JSON.

Saiba mais: Como funcionam os smart contracts

Ao falar sobre transações na rede, há também uma grande diferença. Afinal, os BRC-20 funcionam de forma paralela ao Bitcoin em si. Neste caso, uma transação de tokens pode ser aceita pela rede principal, mas rejeitada pela rede BRC-20. Por isso, uma não afeta a outra. 

Em contrapartida, as operações realizadas via ERC-20 estão em constante conexão com a blockchain do Ethereum.

Desvantagens do BRC-20

Apesar da novidade, há, sim, algumas desvantagens bastante importantes em relação aos tokens BRC-20, como:

Desenvolvimento limitado: Por ser um ecossistema ainda muito novo, há poucos desenvolvedores sérios que trabalham em soluções BRC-20. Por isso, o que tem surgido muito recentemente foram as memecoins. Desta forma, em vez de trazer novidades, o protocolo pode ser tornar um lar de projetos pouco atraentes.

Taxas altas para transações: Por ser restrita à mainnet do Bitcoin, o alto volume de transações dos tokens BRC-20 pode levar a um aumento considerável da taxa de transação, tornando o envio e recebimento bastante caro e até mesmo lento, em determinados momentos.

BRC-20 congestionam rede do Bitcoin

Os tokens BRC-20 colocaram a rede do Bitcoin em uma verdadeira prova de fogo em relação a sua escalabilidade.

Em 7 de maio de 2023, a blockchain registrou um recorde de 4.373 transações processadas dentro de um único bloco. Entretanto, a rede tem sua capacidade limitada a 7 transações por segundo, muito menor do que sistemas tradicionais, como a Visa, que processa mais de 1,7 mil pagamentos por segundo.

Token BRC-20

Por isso, o Bitcoin possui soluções de layer-2, como a Lightning Network, que escalam o volume de transações fora da rede e permitem operações mais rápidas e baratas.

Mesmo assim, o volume registrado em 7 de maio foi muito além do que a rede principal poderia suportar de forma saudável, causando um congestionamento e um aumento considerável nas taxas cobradas pelos mineradores.

Neste momento, muitos usuários passaram a ter dificuldades em enviar Bitcoins para outras carteiras e até mesmo sacá-los de corretoras.

A concentração ocorreu pelo crescente hype em torno dos tokens BRC-20 e a possibilidade de geração de memecoins, como a Pepecoin (PEPE).

Confira: Qual o sucesso da Pepecoin?

O evento levantou novamente a necessidade de a rede principal desbloquear e aumentar o limite de transações por segundo.

Vale a pena observar o BRC-20?

Os tokens BRC-20 são a ramificação de uma aplicação bastante importante para o Bitcoin: os Ordinals. Porém, a tecnologia ainda é muito recente e pouco se sabe sobre possíveis usos, vantagens e riscos.

Entretanto, o desenvolvimento de uma solução até então inédita para a maior blockchain do mundo, claro, apimenta as coisas e mostram que há sim espaço para crescimento e novas aplicações.

Resta saber, entretanto, como a comunidade e os desenvolvedores vão lidar com o novo protocolo e se isso será levado a sério para novos desdobramentos.

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